sábado, 26 de setembro de 2009

Cantando em línguas: Labassurionderrah

O mais novo sucesso da música gospel Graça Ramalho em Labassurionderra !!!



Letra do "hino" da Irmã Graça Ramalho!


Veja irmãos o lugar que eu andei
Falo do anjo que eu pude contemplar
Ele é lindo, estreito e maravilhoso
E o nome do lugar é Labassurionderrah

Ri - plá - plá - plá - plá
Ipla - Labassurionderrah
Ri - plá - plá - plá - plá
Não diminuo, e nem também posso aumentar

Veja irmãos, que eu ainda vou falar
Deste anjo que eu pude contemplar
Ele tem as vestes brancas, olhos de fogo, meus irmãos
Só lhes falo do que pude contemplar

Ri - plá - plá - plá - plá
Ipla - Labassurionderrah
Ri - plá - plá - plá - plá
Não diminuo, e nem também posso aumentar

Veja irmãos, que eu ainda vou falar
Deste anjo que eu pude contemplar
Ele é alto, e o cabelo encaracolado, meus irmãos
Só te falo do que eu pude contemplar

Ri - plá - plá - plá - plá
Ipla - Labassurionderrah
Ri - plá - plá - plá - plá
Não diminuo, e nem também posso aumentar

Veja irmãos o que eu ainda vou falar
Deste anjo que eu pude contemplar
Ele é lindo, estreito e maravilhoso
E o nome deste anjo é Labassurionder...

Ri - plá - plá - plá - plá
Ipla - Labassurionderrah
Ri - plá - plá - plá - plá
Não diminuo, e nem também posso aumentar

Ri - plá - plá - plá - plá
Ipla - Labassurionderrah
Ri - plá - plá - plá - plá
Não diminuo, e nem também posso aumentar...

A galinha profetizava e o galo traduzia!!!

Como resgatar a credibilidade da Igreja Cristã?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Apócrifos: O Evangelho de Maria Madalena (Fragmento)

O Salvador disse: "Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça".

Pedro lhe disse: "Já que nos explicaste tudo. Diz-nos isso também: o que é o pecado do mundo?" Jesus disse: "Não há pecado; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado 'pecado'. Por isso, Deus-Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la a sua origem".

Em seguida disse: "Por isso adoeceis e morreis [...] Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurai força das diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça."

Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: "A Paz esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para que ninguém vos afaste do Caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'Por lá', pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas". Após dizer tudo isso, partiu.

Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam: "Como vamos pregar aos gentios o Evangelho do Reino do Filho do Homem? Se eles não o procuraram, vão poupar a nós?" Maria Madalena se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: "Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens." Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as Palavras do Salvador.

Pedro disse a Maria: "Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos".
Maria Madalena respondeu dizendo: "Esclarecerei a vós o que está oculto". E ela começou a falar essas palavras: "Eu...", disse ela, "Eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: 'Mestre, apareceste-me hoje numa visão'. Ele respondeu e me disse: 'Bem-aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver. Pois, onde está a mente, há um tesouro'. Eu lhe disse: 'Mestre, aquele que tem uma visão vê com a alma ou com o espírito?' Jesus respondeu e disse: "Não vê nem com a alma nem com o espírito, mas com a consciência, que está entre ambos - assim é que tem a visão [...]".

E o desejo disse à alma: 'Não te vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences a mim?' A alma respondeu e disse: 'Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste.' Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria. "De novo alcançou a terceira potência, chamada ignorância. A potência, inquiriu a alma dizendo: 'Onde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgues!' E a alma disse: 'Por que me julgaste apesar de eu não haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais.' "Quando a alma venceu a terceira potência, subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira, ignorância; a quarta é a comoção da morte; a quinta é o reino da carne; a sexta é a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira. Elas perguntaram à alma: ´De onde vens, devoradora de homens, ou onde vais, conquistadora do espaço?' A alma respondeu, dizendo: 'O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado..., e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno'."

Depois de ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos irmãos: "Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam idéias estranhas". Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador: "Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?" Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: "Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?" Levi respondeu a Pedro: "Pedro, sempre foste exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário.

Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí tê-la amado mais do que a nós. É, antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o Homem Perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou."
Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.

domingo, 20 de setembro de 2009

Apócrifos: O Evangelho de Tomé

(126)(1)Estes são os ensinamentos ocultos expostos por Jesus, o vivo, que Judas Tomé, o gêmeo, escreveu.

(1) E ele disse: "Quem descobrir o significado interior destes ensinamentos não provará a morte."
(2) Jesus disse: "Aquele que busca continue buscando até encontrar. Quando encontrar, ele se perturbará. Ao se perturbar, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo".
(3) Jesus disse: "Se aqueles que vos guiam disserem, 'Olhem, o reino está no céu', então, os pássaros do céu vos precederão, se vos disserem que está no mar, então, os peixes vos precederão. Pois bem, o reino está dentro de vós, e também está em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos, então, sereis conhecidos e compreendereis que sois filhos do Pai vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis na pobreza e sereis essa pobreza."
(4) Jesus disse: "O homem idoso não hesitará em perguntar a uma criancinha de sete dias sobre o lugar da vida, e ele viverá. Pois muitos dos primeiros serão os últimos e se tornarão um só."
(5) Jesus disse: "Reconheça o que está diante de teus olhos, e o que está oculto a ti será desvelado. Pois não há nada oculto que não venha ser manifestado."
(6) Seus discípulos o interrogaram dizendo: "Queres que jejuemos? Como devemos orar? Devemos dar esmolas? Que dieta devemos observar?"
(127) Jesus disse: "Não mintais e não façais aquilo que detestais, pois todas as coisas são desveladas aos olhos do céu. Pois não há nada escondido que não se torne manifesto, e nada oculto que não seja desvelado."
(7) Jesus disse: "Bem-aventurado o leão que se torna homem quando consumido pelo homem; maldito o homem que o leão consome, e o leão torna-se homem."
(8) E ele disse: "O homem é como pescador sábio que lança sua rede ao mar e a retira cheia de peixinhos. O pescador sábio encontra entre eles um peixe grande e excelente. Joga todos os peixinhos de volta ao mar e escolhe o peixe grande sem dificuldade. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
(9) Jesus disse: "Eis que o semeador saiu, encheu sua mão e semeou. Algumas sementes caíram na estrada; os pássaros vieram e as recolheram. Algumas caíram sobre rochas, não criaram raízes no solo e não produziram espigas. Outras caíram em meio a um espinheiro, que sufocou as sementes e os vermes as comeram. E outras caíram em solo fértil e produziram bons frutos; renderam sessenta por uma e cento e vinte por uma."
(10) Jesus disse: "Eu lancei fogo sobre o mundo, e eis que estou cuidando dele até que queime."
(11) Jesus disse: "Este céu passará, e aquele acima dele passará. Os mortos não estão vivos e os vivos não morrerão. Nos dias em que consumistes o que estava morto, vós o tornastes vivo. Quando estiverdes morando na luz, o que fareis? No dia em que éreis um vos tornastes dois. Mas quando vos tornardes dois, o que fareis?"
(12) Os discípulos disseram a Jesus: "Sabemos que tu nos deixarás. Quem será nosso líder?"
Jesus disse-lhes: "Não importa onde estiverdes, devereis dirigir-vos a Tiago, o justo, para quem o céu e a terra foram feitos."
(13) Jesus disse a seus discípulos: "Comparai-me com alguém e dizei-me com quem me assemelho."
Simão Pedro disse-lhe: "Tu és semelhante a um anjo justo."
Mateus lhe disse: "Tu te assemelhas a um filósofo sábio."
Tomé lhe disse: "Mestre, minha boca é inteiramente incapaz de dizer com quem te assemelhas."
Jesus disse: "Não sou teu Mestre. Porque bebeste na fonte borbulhante que fiz brotar, tornaste-te ébrio. (128) E, pegando-o, retirou-se e disse-lhe três coisas. Quando Tomé retornou a seus companheiros, eles lhe perguntaram: "O que te disse Jesus?"
Tomé respondeu: "Se eu vos disser uma só das coisas que ele me disse, apanhareis pedras e as atirareis em mim, e um fogo brotará das pedras e vos queimará."
(14) Jesus disse-lhes: "Se jejuardes, gerareis pecado para vós; se orardes, sereis condenados; se derdes esmolas, fareis mal a vossos espíritos. Quando entrardes em qualquer país e caminhardes por qualquer lugar, se fordes recebidos, comei o que vos for oferecido e curai os enfermos entre eles. Pois o que entrar em vossa boca não vos maculará, mas o que sair de vossa boca - é isso que vos maculará."
(15) Jesus disse: "Quando virdes aquele que não foi nascido de uma mulher, prostrai-vos com a face no chão e adorai-o: é ele o vosso Pai."
(16) Jesus disse: "Talvez os homens pensem que vim lançar a paz sobre o mundo. Não sabem que é a discórdia que vim espalhar sobre a Terra: fogo, espada e disputa. Com efeito, havendo cinco numa casa, três estarão contra dois e dois contra três: o pai contra o filho e o filho contra o pai. E eles permanecerão solitários."
(17) Jesus disse: "Eu vos darei o que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram, o que as mão não tocaram e o que nunca ocorreu à mente do homem."
(18) Os discípulos disseram a Jesus: "Dize-nos como será o nosso fim."
Jesus disse: "Haveis, então, discernido o princípio, para que estejais procurando o fim? Pois onde estiver o princípio ali estará o fim. Feliz daquele que tomar seu lugar no princípio: ele conhecerá o fim e não provará a morte."
(19) Jesus disse: "Feliz o que já era antes de surgir. Se vos tornardes meus discípulos e ouvirdes minhas palavras, estas pedras estarão a vosso serviço. Com efeito, há cinco árvores para vós no Paraíso que permanecem inalteradas inverno e verão, e cujas folhas não caem. Aquele que as conhecer não provará a morte."
(20) Os discípulos disseram a Jesus: "Dize-nos a que se assemelha o reino do céu."
Ele lhes disse: "Ele se assemelha a uma semente de mostarda, a menor de todas as sementes. Mas, quando cai em terra cultivada, produz uma grande planta e torna-se um refúgio para as aves do céu."
(129) (21) Maria disse a Jesus: "A quem se assemelham teus discípulos?"
Ele disse: "Eles se parecem com crianças que se instalaram num campo que não lhes pertence. Quando os donos do campo vierem, dirão: 'Entregai nosso campo.' Elas se despirão diante deles para que eles possam receber o campo de volta e para entregá-lo a eles. Por isso digo: se o dono da casa souber que virá um ladrão, velará antes que ele chegue e não deixará que ele penetre na casa de seu domínio para levar seus bens. Vós, portanto, permanecei atentos contra o mundo. Armai-vos com todo poder para que os ladrões não consigam encontrar um caminho para chegar a vós, pois a dificuldade que temeis certamente ocorrerá. Que possa haver entre vós um homem prudente. Quando a safra estiver madura, ele virá rapidamente com sua foice em mãos para colhe-la. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
(22) Jesus viu crianças sendo amamentadas. Ele disse a seus discípulos: "Esses pequeninos que mamam são como aqueles que entram no Reino." Eles lhe disseram: Nós também, como crianças, entraremos no Reino?" Jesus lhes disse: "Quando fizerdes do dois um e quando fizerdes o interior como o exterior, o exterior como o interior, o acima como o embaixo e quando fizerdes do macho e da fêmea uma só coisa, de forma que o macho não seja mais macho nem a fêmea seja mais fêmea, e quando formardes olhos em lugar de um olho, uma mão em lugar de uma mão, um pé em lugar de um pé e uma imagem em lugar de uma imagem, então, entrareis (no Reino).
(23) Jesus disse: Escolherei dentre vós, um entre mil e dois entre dez mil, e eles permanecerão como um só."
(24) Seus discípulos disseram-lhe: "Mostra-nos o lugar onde estás, pois precisamos procurá-lo."
Ele disse-lhes: "Aquele que tem ouvidos, ouça! Há luz no interior do homem de luz e ele ilumina o mundo inteiro. Se ele não brilha, ele é escuridão."
(25) Jesus disse: "Ama teu irmão como à tua alma, protege-o como a pupila de teus olhos."
(26) Jesus disse: "Tu vês o cisco no olho de teu irmão, mas não vês a trave em teu próprio olho. Quando retirares a trave de teu olho, então verás claramente e poderás retirar o cisco do olho de teu irmão."
(27) (Jesus disse:) "Se não jejuardes com relação ao mundo, não encontrareis o Reino. Se não observardes o sábado como um sábado, não vereis o Pai."
(130) (28) Jesus disse: "Assumi meu lugar no mundo e revelei-me a eles na carne. Encontrei todos embriagados. Não encontrei nenhum sedento, e minha alma ficou aflita pelos filhos dos homens, porque estão cegos em seus corações e não têm visão. Pois vazios vieram ao mundo e vazios procuram deixar o mundo. Mas no momento eles estão embriagados. Quando superarem a embriaguez, então mudarão sua maneira de pensar."
(29) Jesus disse: "Seria uma maravilha se a carne tivesse surgido por causa do espírito. Mas seria a maior das maravilhas se o espírito tivesse surgido por causa do corpo. Estou realmente surpreso pela forma como essa grande riqueza fez morada nessa pobreza."
(30) Jesus disse: "Onde há três deuses, eles são deuses. Onde há dois ou um, estou com ele."
(31) Jesus disse: "Nenhum profeta é aceito em sua cidade; nenhum médico cura aqueles que o conhecem".
(32) Jesus disse: "Uma cidade construída e fortificada sobre uma montanha elevada não pode cair nem pode ser escondida".
(33) Jesus disse: "Proclamai sobre os telhados aquilo que ouvirdes com vosso próprio ouvido. Pois ninguém acende uma lâmpada e coloca-a debaixo de um cesto, tampouco coloca-a num lugar escondido, mas num candelabro, para que todos que venham a entrar e sair vejam sua luz."
(34) Jesus disse: "Se um cego guia outro cego, ambos cairão numa vala."
(35) Jesus disse: "Não é possível que alguém entre na casa de um homem forte e tome-a à força, a menos que lhe ate as mãos; então será capaz de saquear sua casa."
(36) Jesus disse: "Não vos preocupeis de manhã até a noite e de noite até a manhã com o que vestireis".
(37) Seus discípulos disseram: "Quando tu te revelarás a nós e quando te veremos?"
Jesus disse: "Quando vos despirdes sem vos envergonhardes e tomardes vossas vestes e, colocando-as sobre vossos pés, pisardes sobre elas como criancinhas, então (vereis) o filho daquele que vive e não tereis medo."
(38) Jesus disse: "Muitas vezes haveis desejado ouvir essas palavras que vos digo, e não tendes outro de quem ouvi-las. Pois virão dias em que me procurareis e não me encontrareis."
(39) Jesus disse: "Os fariseus e os escribas tomaram as chaves da gnosis. (131) Eles não entraram nem deixaram entrar aqueles que queriam entrar. Vós, no entanto, sede sábios como as serpentes e mansos como as pombas."
(40) Jesus disse: "Uma parreira foi plantada fora do Pai, porém, não sendo saudável, ela será arrancada pela raiz e destruída."
(41) Jesus disse: "Quem tiver algo em sua mão receberá mais, e quem não tiver nada perderá até mesmo o pouco que tem."
(42) Jesus disse: "Tornai-vos passantes."
(43) Seus discípulos disseram-lhe: "Quem és tu para dizer-nos tais coisas?"
[Jesus disse-lhes:] "Não percebeis quem sou eu pelo que vos digo, mas vos tornastes como os judeus! Com efeito, eles amam a árvore e odeiam seus frutos ou amam os frutos, mas odeiam a árvore."
(44) Jesus disse: "Quem blasfemar contra o Pai será perdoado e quem blasfemar contra o Filho será perdoado, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado nem na terra nem no céu."
(45) Jesus disse: "Não se colhe uvas dos espinheiros nem figos dos cardos, pois eles não dão frutos. O homem bom retira o bem do seu tesouro; o malvado retira o mal de seu tesouro malévolo, que está em seu coração, e diz maldade. Pois da abundância do coração ele retira coisas más."
(46) Jesus disse: "Dentre os que nasceram da mulher, desde Adão até João, o Batista, não há ninguém superior a João, para que não abaixe os olhos [diante dele]. Mas eu digo, aquele dentre vós que se tornar uma criança conhecerá o Reino e se tornará superior a João."
(47) Jesus disse: "É impossível para um homem montar dois cavalos ou retesar dois arcos. E é impossível que um servo sirva a dois senhores, pois ele honra um e ofende o outro. Ninguém bebe vinho velho e logo em seguida deseja beber vinho novo. E não se coloca vinho novo em odres velhos, para que não arrebentem; nem se coloca vinho velho em odres novos, para que não o estraguem. E não se cose pano velho em veste nova, porque ela está arriscada a rasgar."
(48) Jesus disse: "Se os dois fizerem as pazes nesta casa, eles dirão a montanha: 'Move-te!' e ela se moverá."
(132) (49) Jesus disse: "Bem aventurados os solitários e os eleitos, pois encontrareis o Reino. Pois, viestes dele e para ele retornareis."
(50) Jesus disse: "Se vos perguntarem: 'De onde vindes?' respondei: 'Viemos da luz, do lugar onde a luz nasceu dela mesma, estabeleceu-se e tornou-se manifesta por meio de suas imagens'. Se vos perguntarem: 'Vós sois isto?' digam: 'Nós somos seus filhos e somos os eleitos do Pai vivo'. Se vos perguntarem: 'Qual é o sinal de vosso Pai em vós?', digam a eles: 'É movimento e repouso'".
(51) Seus discípulos disseram-lhe: "Quando ocorrerá o repouso dos mortos e quando virá o novo mundo?"
Ele disse-lhes: "Aquilo que esperais já chegou, mas não o reconheceis."
(52) Seus discípulos disseram-lhe: "Vinte e quatro profetas falaram em Israel e todos falaram de ti."
Ele disse-lhes: "Omitistes aquele que vive em vossa presença e falastes dos mortos."
(53) Seus discípulos disseram-lhe: "A circuncisão é benéfica ou não?"
Ele disse-lhes: "Se ela fosse benéfica, os pais gerariam filhos já circuncisos de sua mãe. Mas a verdadeira circuncisão, a espiritual, tornou-se inteiramente proveitosa."
(54) Jesus disse: "Bem-aventurados os pobres, pois vosso é o Reino do céu."
(55) Jesus disse: "Aquele que não odiar (2) seu pai e sua mãe não poderá se tornar meu discípulo. E quem não odiar seus irmãos e irmãs e tomar sua cruz, como eu, não será digno de mim."
(56) Jesus disse: "Aquele que conseguiu compreender o mundo encontrou (somente) um cadáver, e quem encontrou um cadáver é superior ao mundo."
(57) Jesus disse: "O Reino do Pai é semelhante ao homem que tem [boa] semente. Seu inimigo veio durante a noite e semeou joio por cima da boa semente. O homem não deixou que arrancassem o joio, dizendo: 'temo que acabeis arrancando o joio e também o trigo junto com ele. No dia da colheita as ervas daninhas estarão bem visíveis e serão, então, arrancadas e queimadas".
(58) Jesus disse: "Bem-aventurado o homem que sofreu e encontrou a vida".
(59) Jesus disse: "Prestai atenção àquele que vive enquanto estais vivos, para que, ao morrerdes, não fiqueis procurando vê-lo sem conseguir".
(133) (60) [Eles viram] um samaritano carregando um cordeiro a caminho da Judéia. Ele disse a seus discípulos: "Por que o homem está carregando o cordeiro?"
Eles disseram-lhe: "Para matá-lo e comê-lo".
Ele disse-lhes: "Enquanto o cordeiro estiver vivo, ele não o comerá, mas somente depois que o tiver matado e que o cordeiro se tornar um cadáver".
Eles disseram-lhe: "Ele não poderia fazer de outro modo".
Ele disse-lhes: "Vós, também, buscai um lugar para vós no repouso, a fim de que não vos torneis um cadáver e sejais devorados".
(61) Jesus disse: "Dois repousarão sobre um leito: um morrerá, o outro viver.".
Salomé disse: "Quem és tu homem, que ... te acomodaste em meu divã e comeste à minha mesa?"
Jesus disse-lhe: "Eu sou aquele que existe a partir do indivisível. Recebi algumas das coisas de meu pai".
[ ... ] "Eu sou seu discípulo".
[ ... ] "Por isso digo que, se for destruído, ele estará pleno de luz, mas, se ele estiver dividido, estará pleno de trevas".
(62) Jesus disse: "Eu digo meus mistérios aos [que são dignos de meus] mistérios. Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita".
(63) Jesus disse: "Havia um rico que tinha muito dinheiro. Ele disse: 'Empregarei meu dinheiro para semear, colher, plantar e encher meu celeiro com o fruto da colheita, para que não me venha a faltar nada'. Essas eram suas intenções, mas naquela mesma noite ele morreu. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça".
(64) Jesus disse: "Um homem tinha convidados. E quando a ceia estava pronta, mandou seu servo chamar os convidados. O servo foi ao primeiro e disse-lhe: 'Meu mestre te convida'. O outro respondeu: 'Tenho dinheiro aplicado com alguns comerciantes. Eles virão me procurar esta noite para que eu lhes dê minhas instruções. Apresento minhas desculpas por não ir à ceia. O servo foi até outro e disse: 'Meu senhor está te convidando'. Este disse-lhe: 'Acabo de comprar uma casa e precisam de mim hoje. Não terei tempo'. O servo foi a outro e disse-lhe: 'Meu senhor está te convidando'. Este disse-lhe: 'Um amigo vai se casar e coube-me preparar o banquete. Não poderei ir à ceia, peço ser desculpado. O servo foi a outro ainda e disse-lhe: 'Meu senhor está te convidando'. Este disse-lhe: 'Acabo de comprar uma fazenda e estou saindo para buscar o rendimento. Não poderei ir, por isso me desculpo'. O servo retornou e disse a seu senhor: 'Os que convidaste para a ceia mandam pedir desculpas'. (134) O senhor disse ao servo: 'Vai lá fora pelos caminhos e traze os que encontrares para que possam ceiar. Os homens de negócios e mercadores não entrarão no recinto de meu Pai'".
(65) Ele disse: "Um homem de bem tinha uma vinha. Ele a alugou a camponeses para que cuidassem dela e pagassem-lhe com uma parte da produção. Ele enviou seu servo para que os arrendatários entregassem-lhe o fruto da vinha. Eles pegaram seu servo e o espancaram, deixando-o à beira da morte. O servo voltou e contou a seu senhor o ocorrido. O senhor disse: 'Talvez não o tenham reconhecido'. Ele enviou outro servo. Os camponeses também o espancaram. Então o proprietário enviou seu filho e disse: 'Talvez eles tenham respeito por meu filho'. Como os camponeses sabiam que aquele era o herdeiro da vinha, pegaram-no e mataram-no. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça".
(66) Jesus disse: "Mostrai-me a pedra que os construtores rejeitaram; ela é a pedra angular."
(67) Jesus disse: "Se alguém que conhece o todo ainda sente uma deficiência pessoal, ele é completamente deficiente".
(68) Jesus disse: "Bem-aventurados os que são odiados e perseguidos. Mas os que vos perseguirem não encontrarão lugar".
(69) Jesus disse: "Bem-aventurados aqueles que foram perseguidos em seu interior. São eles que realmente conheceram o pai. Bem-aventurados os famintos, porque se encherá o ventre de quem tem desejo".
(70) Jesus disse: "Aquilo que tendes vos salvará se o manifestardes. Aquilo que não tendes em vosso interior vos matará se não o tiverdes dentro de vós".
(71) Jesus disse: "Destruirei esta casa e ninguém será capaz de reconstruí-la [...]"
(72) [Um homem disse-lhe]: "Dize a meus irmãos para que partilhem os bens de meu pai comigo".
Ele lhe disse: "Ó, homem, quem me institui partilhador?"
Voltando-se para seus discípulos, disse-lhes: "Eu não sou um partilhador, sou?"
(73) Jesus disse: "A colheita é grande mas os operários são poucos. Portanto, implorai ao senhor para que envie operários para a colheita".
(74) Ele disse: "Ó senhor, há muitas pessoas ao redor do bebedouro, mas não há nada na cisterna."
(75) Jesus disse: "Muitos estão aguardando à porta, mas são os solitários que entrarão na câmara nupcial".
(135) (76) O Reino do pai é semelhante ao comerciante que tinha uma consignação de mercadorias e nelas descobriu uma pérola. Esse comerciante era astuto. Ele vendeu as mercadorias e adquiriu a pérola maravilhosa para si. Vós também deveis buscar esse tesouro indestrutível e duradouro, que nenhuma traça pode devorar nem o verme destruir".
(77) Jesus disse: "Eu sou a luz que está sobre todos eles. Eu sou o todo. De mim surgiu o todo e de mim o todo se estendeu. Rachai um pedaço de madeira, e eu estou lá. Levantai a pedra e me encontrareis lá".
(78) Jesus disse: "Por que viestes ao deserto? Para ver um caniço agitado pelo vento? E para ver um homem vestido com roupas finas como vosso rei e vossos homens importantes? Esses usam roupas finas, mas são incapazes de discernir a verdade."
(79) Uma mulher na multidão disse-lhe: "Bem-aventurado o ventre que te portou e os seios que te nutrira.".
Ele disse-lhe: "Bem-aventurados os que ouviram a palavra do Pai e que realmente a guardaram. Pois virão dias em que direis: "Bem-aventurado o ventre que não concebeu, e os seios que não amamentaram".
(80) Jesus disse: "Aquele que reconheceu o mundo encontrou o corpo, mas aquele que encontrou o corpo é superior ao mundo".
(81) Quem enriqueceu, torne-se rei, mas quem tem poder que possa renunciar a ele."
(82) Jesus disse: "Aquele que está perto de mim está perto do fogo, e aquele que está longe de mim está longe do Reino".
(83) Jesus disse: "As imagens manifestam-se ao homem, mas a luz que está nelas permanece oculta na imagem da luz do Pai. Ele tornar-se-á manifesto, mas sua imagem permanecerá velada por sua luz".
(84) Jesus disse: "Quando vedes vossa semelhança, vós vos rejubilais. Mas, quando virdes vossas imagens que surgiram antes de vós, e que não morrem nem se manifestam, quanto tereis de suportar!"
(85) Jesus disse: "Adão surgiu de um grande poder e de uma grande riqueza, mas ele não se tornou digno de vós. Pois, se tivesse sido digno, não teria experimentado a morte".
(86) Jesus disse: "[As raposas têm suas tocas] e as aves têm seus ninhos, mas o filho do homem não tem nenhum lugar para pousar sua cabeça e descansar."
(87) Jesus disse: "Miserável do corpo que depende de um corpo e da alma que depende desses dois".
(88) Jesus disse: "Os anjos e os profetas virão a vós e darão aquelas coisas que já tendes. E dai vós também a eles as coisas que tendes e dizei a vós mesmos: 'Quando virão tomar o que é deles?'"
(89) Jesus disse: "Por que lavais o exterior da taça? Não compreendeis que aquele que fez o interior é o mesmo que fez o exterior?"
(90) Jesus disse: "Vinde a mim, pois meu jugo é fácil e meu domínio é suave, e encontrareis repouso para vós".
(91) Eles disseram-lhe: "Dize-nos quem tu és, para que possamos crer em ti."
Ele disse-lhes: "Vós decifrastes a face to céu e da terra, mas não reconhecestes aquele que está diante de vós e não soubestes perceber este momento".
(92) Jesus disse: "Buscai e encontrareis. No entanto, aquilo que me perguntastes anteriormente e que não vos respondi então, agora desejo vos dizer mas vós não me perguntais sobre aquilo".
(93) [Jesus disse]: "Não deis aos cães o que é sagrado, para que eles não o joguem no lixo. Não atireis pérolas aos porcos, para que eles ..."
(94) Jesus [disse]: "Quem busca, encontrará, e [quem bate] terá permissão para entrar".
(95) [Jesus disse]: "Se tendes dinheiro, não o empresteis a juro, mas dai-o àquele de quem não o recebereis de volta".
(96) Jesus disse: "O Reino do Pai é como [uma certa] mulher. Ela tomou um pouco de fermento, [escondeu-o] na massa, e fez com ela grandes pães. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!"
(97) Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma certa mulher que estava carregando um cântaro cheio de farinha. Enquanto estava caminhando pela estrada, ainda distante de casa, a alça do cântaro partiu-se e a farinha foi caindo pelo caminho atrás dela. Ela não se deu conta, pois não tinha percebido o acidente. Quando chegou em casa, colocou o cântaro no chão e percebeu que ele estava vazio".
(98) Jesus disse: "O Reino do Pai é como um certo homem que queria matar um homem poderoso. Em sua própria casa ele desembainhou a espada e enfiou-a na parede para saber se sua mão poderia realizar a tarefa. Então ele matou o homem poderoso".
(99) Os discípulos disseram-lhe: "Teus irmãos e tua mãe estão aguardando lá fora."
Ele disse-lhes: "Estes que estão aqui que fazem a vontade de meu Pai são meus irmãos e minha mãe. São eles que entrarão no Reino de meu Pai".
(100) Eles mostraram uma moeda de ouro a Jesus e disseram-lhe: "Os homens de César exigem-nos tributos".
Ele disse-lhes: "Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus, e dai a mim o que é meu".
(101) [Jesus disse]: "Quem não odeia (3) seu [pai] e sua mãe como eu não pode se tornar meu [discípulo]. E quem não ama seu [pai e] sua mãe como eu não pode se tornar meu [discípulo]. Porque minha mãe [ ... ], mas [minha] verdadeira [mãe] deu-me a vida".
(102) Jesus disse: "Ai dos fariseus, porque eles são como um cachorro dormindo na manjedoura dos bois, pois eles não comem nem permitem que os bois comam."
(103) Jesus disse: "Feliz do homem que sabe por onde os ladrões vão entrar, porque dessa forma [ele] pode se levantar, passar em revista seu domínio e armar-se antes deles invadirem".
(104) Eles disseram a Jesus: "Vem, oremos e jejuemos hoje".
Jesus disse: "Qual foi o pecado que cometi ou em que fui vencido? Porém, quando o noivo deixar a câmara nupcial, então que eles jejuem e orem".
(105) Jesus disse: "Quem conhece o pai e a mãe será chamado filho de prostituta."
(106) Jesus disse: "Quando fizerdes de dois, um, vos tornareis filhos do homem, e quando disserdes: 'Montanha, move-te!', ela se moverá".
(107) Jesus disse: "O Reino é como um pastor que tinha cem ovelhas. Uma delas, a maior de todas, extraviou-se. Ele deixou as noventa e nove e foi procurá-la, até encontrá-la. Depois de ter passado por todo esse incômodo, ele disse à ovelha: 'Eu me interesso por ti mais do que pelas noventa e nove'".
(108) Jesus disse: "Quem beber de minha boca tornar-se-á como eu. Eu mesmo me tornarei ele, e as coisas que estão ocultas ser-lhe-ão reveladas".
(109) Jesus disse: "O Reino é como o homem que tinha um tesouro [escondido] em seu campo sem saber. Após sua morte, deixou o campo para seu [filho]. O filho não sabia [a respeito do tesouro]. Ele herdou o campo e o vendeu. O comprador ao arar o campo encontrou o tesouro. Começou então a emprestar dinheiro a juros a quem queria".
(110) Jesus disse: "Quem encontrou o mundo e tornou-se rico, que renuncie ao mundo".
(111) Jesus disse: "Os céus e a terra se dobrarão diante de vós. E aquele que vive do Vivo não conhecerá a morte. Jesus não disse: 'Quem se encontra é superior ao mundo?'"
(112) Jesus disse: "Ai da carne que depende da alma; ai da alma que depende da carne".
(113) Seus discípulos disseram-lhe: "Quando virá o Reino?"
[Jesus disse]: "Ele não virá porque é esperado. Não é uma questão de dizer: 'eis que ele está aqui' ou 'eis que está ali'. Na verdade, o Reino do Pai está espalhado pela terra e os homens não o vêem."
(114) Simão Pedro disse-lhes: "Que Maria saia de nosso meio, pois as mulheres não são dignas da vida".
Jesus disse: "Eu mesmo vou guiá-la para torná-la macho, para que ela também possa tornar-se um espírito vivo semelhante a vós machos. Porque toda mulher que se tornar macho entrará no Reino do Céu".

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Apócrifos: Proto-Evangelho de Tiago

O Proto-Evangelho de Tiago é um evangelho apócrifo escrito provalvelmente em 150. Esse título surgiu em fins do século XVI quando foi publicado, pois até então era chamado apenas de Livro de Tiago.

Muitos estudiosos consideram o seu texto muito remoto, anterior mesmo aos Evangelhos Canónicos ou até a base deles. A época e seu verdadeiro autor são desconhecidos. Embora tenha sido atribuído a Tiago Menor, filho de Zebedeu, alguns estudiosos refutam essa teoria, uma vez que o autor demonstra relativo desconhecimento do judaísmo.

Os Pais da Igreja, Orígenes, Clemente, Pedro de Alexandria, São Justino e São Epifânio citam este evangelho com muita frequência.

PROTO-EVANGELHO DE TIAGO

I

Segundo narram as memórias das doze tribos de Israel, havia um homem muito rico, de nome Joaquim, que fazia suas oferendas em quantidade dobrada, dizendo:
— O que sobra, ofereça-o para todo o povoado e o devido na expiação de meus pecados será para o Senhor, a fim de ganhar-lhe as boas graças.
Chegou a grande festa do Senhor, na qual os filhos de Israel devem oferecer seus donativos. Rubem se pôs à frente de Joaquim, dizendo-lhe:
— Não te é lícito oferecer tuas dádivas, enquanto não tiveres gerado um rebento em Israel.
Joaquim mortificou-se tanto que se dirigiu aos arquivos de Israel, com intenção de consultar o censo genealógico e verificar se, porventura, teria sido ele o único que não havia tido prosperidade em seu povoado.
Examinando os pergaminhos, constatou que todos os justos haviam gerado descendentes. Lembrou-se, por exemplo, de como o Senhor deu Isaac ao patriarca Abraão, em seus derradeiros anos de vida.
Joaquim ficou muito atormentado, não procurou sua mulher e se retirou para o deserto. Ali armou sua tenda e jejuou por quarenta dias e quarenta noites, dizendo:
— Não sairei daqui nem sequer para comer ou beber, até que não me visite o Senhor meu Deus. Que minhas preces me sirvam de comida e de bebida.

II
Ana lamentava-se e gemia dolorosamente, dizendo:
— Chorarei minha viuvez e minha esterilidade.
Chegou, porém, a grande festa do Senhor e disse-lhe Judite, sua criada:
— Até quando vais humilhar tua alma? Já é chegada a festa maior e não te é lícito entristecer-te. Toma este lenço de cabeça, que me foi dado pela dona da tecelagem, já que não posso cingir-me com ele por ser eu de condição servil e levar ele ao selo real.
Disse Ana:
— Afasta-te de mim, pois que não fiz tal coisa e, além do mais, o Senhor já me humilhou em demasia para que eu o use. A não ser que algum malfeitor o haja dado e tenhas vindo para fazer-me também cúmplice do pecado.
Replicou Judite:
— Que motivo tenho eu para maldizer-te, se o Senhor já te amaldiçoou não te dando fruto de Israel?
Ana, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com um toucado, vestiu suas roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua sombra e orou ao Senhor, dizendo:
— Ó Deus de nossos pais! Ouve-me e bendize-me da maneira que bendisseste o ventre de Sara, dando-lhe como filho Isaac!

III

Tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se dizendo:
— Ai de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita entre os filhos de Israel. Estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Deus. Ai de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois elas são fecundas em tua presença, Senhor. Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até esses animais irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor. Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor. Ai de mim! A quem me igualo eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecundada, dando seus frutos na ocasião própria e te bendiz, Senhor.

IV

Eis que se lhe apresentou o anjo de Deus, dizendo-lhe:
— Ana, Ana, o Senhor escutou teus rogos! Conceberás e darás à luz e de tua prole se falará em todo o mundo.
Ana respondeu:
— Viva o Senhor meu Deus, que, se chegar a ter algum fruto de bênção, seja menino ou menina, levá-lo-ei como oferenda ao Senhor e estará a seu serviço todos os dias de sua vida.
Então vieram a ela dois mensageiros com este recado:
— Joaquim, teu marido, está de volta com seus rebanhos, pois que um anjo de Deus desceu até ele e lhe disse que o Senhor escutou seus rogos e que Ana, sua mulher, vai conceber em seu ventre.
Tendo saído Joaquim, mandou que seus pastores lhe trouxessem dez ovelhas sem mancha.
Disse ele:
— Estas serão para o Senhor.
Mandou, então separar doze novilhas de leite, dizendo:
— Estas serão para os sacerdotes e para o sinédrio.
Finalmente, mandou apartar cem cabritos para todo o povoado.
Ao chegar Joaquim com seus rebanhos, estava Ana à porta e, ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se ao seu pescoço dizendo:
— Agora vejo que Deus me bendisse copiosamente, pois, sendo viúva, deixo de sê-lo e, sendo estéril, vou conceber em meu ventre.
Então Joaquim repousou naquele dia em sua casa.

V

No dia seguinte, ao ir oferecer sua dádivas ao Senhor, dizia para consigo mesmo:
— Saberei se Deus me vai ser favorável se eu chegar a ver o éfode do sacerdote.
Ao oferecer o sacrifício, observou o éfode do sacerdote, quando este se acercava do altar de Deus, e, não encontrando pecado algum em sua consciência, disse:
— Agora vejo que o Senhor houve por bem perdoar todos os meus pecados.
Desceu Joaquim justificado do templo e foi para casa. O tempo de Ana cumpriu-se e no nono mês deu à luz.
Perguntou à parteira:
— A quem dei à luz?
A parteira respondeu:
— Uma menina.
Então Ana exclamou:
— Minha alma foi enaltecida — e reclinou a menina no berço.
Ao fim do tempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deu o peito à menina e pôs-lhe o nome de Maria.

VI

Dia a dia a menina ia robustecendo-se. Ao chegar aos seis meses, sua mãe deixou-a só no chão, para ver se sustentava-se de pé. Ela, depois de andar sete passos, voltou ao regaço de sua mãe. Esta levantou-se, dizendo:
— Salve o Senhor! Não andarás mais por este solo, até que te leve ao templo do Senhor.
Fez-lhe um oratório em sua casa e não consentiu que nenhuma coisa vulgar ou impura passasse por suas mãos. Chamou, além disso, umas donzelas hebréias, todas virgens, para que a entretivessem.
Quando a menina completou um ano, Joaquim deu um grande banquete, para o qual convidou os sacerdotes, os escribas, o sinédrio e todo o povo de Israel. Apresentou a menina aos sacerdotes, que a abençoaram assim:
— Ó Deus de nossos pais, bendiz esta menina e dá-lhe um nome glorioso e eterno por todas as gerações.
Ao que todo o povo respondeu:
— Assim seja, assim seja! Amém!
Apresentou-a também Joaquim aos príncipes e aos sacerdotes e estes a abençoaram assim:
— Ó Deus Altíssimo, põe teus olhos nesta menina e outorga-lhe uma bênção perfeita, dessas que excluem as ulteriores.
Sua mãe levou-a ao oratório de sua casa e deu-lhe o peito. Compôs, então, um hino ao Senhor Deus, dizendo:
— Entoarei um cântico ao Senhor meu Deus, porque me visitaste, afastaste de mim o opróbrio de meus inimigos e me deste um fruto santo, que é único e múltiplo a seus olhos. Quem dará aos filhos de Rubem a notícia de que Ana está amamentando? Ouvi, ouvi, ó Doze Tribos de Israel: Ana está amamentando!
Tendo deixado a menina para que repousasse na câmara onde havia o oratório, saiu e pôs-se a servir os comensais. Estes, uma vez terminada a ceia, saíram regozijando-se e louvando ao Deus de Israel.

VII

Entretanto, os meses iam-se passando para a menina. Ao fazer dois anos, disse Joaquim a Ana:
— Levemo-la ao templo do Senhor para cumprir a promessa que fizemos, para que Senhor não a reclame e nossa oferenda se torne inaceitável a seus olhos.
Ana respondeu:
— Esperamos, todavia, até que complete três anos, para que a menina não tenha saudades de nós.
Joaquim respondeu:
— Esperaremos.
Ao chegar aos três anos, disse Joaquim:
— Chama as donzelas hebréias que não têm mancha e que tomem, duas a duas, uma candeia acesa e a acompanhem, para que a menina não olhe para trás e seu coração seja cativado por alguma coisa fora do templo de Deus.
Assim fizeram enquanto iam subindo ao templo de Deus. Lá recebeu-a o sacerdote, o qual, depois de tê-la beijado, abençoou-a e exclamou:
— O Senhor engrandeceu teu nome diante de todas as gerações, pois que, no final dos tempos, manifestará em ti sua redenção aos filhos de Israel.
Fê-la sentar-se no terceiro degrau do altar. O Senhor derramou graças sobre a menina, que dançou cativando toda a casa de Israel.

VIII

Saíram, então, seus pais, cheios de admiração, louvando ao Senhor Deus porque a menina não havia olhado para trás. Maria permaneceu no templo como uma pombinha, recebendo alimento pelas mãos de um anjo.
Ao completar doze anos, os sacerdotes reuniram-se para deliberar, dizendo:
— Eis que Maria cumpriu doze anos no templo do Senhor. Que faremos para que ela não chegue a manchar o santuário?
Disseram ao sumo sacerdote:
— Tu que tens o altar ao teu cargo, entra e ora por ela. O que o Senhor te disser, isso será o que haveremos de fazer.
O sumo sacerdote, cingindo-se com o manto das doze sinetas, entrou no Santo dos Santos e orou por ela. Eis que um anjo do Senhor apareceu, dizendo-lhe:
— Zacarias, Zacarias, sai e reúne a todos os viúvos do povoado. Que cada um venha com um bastão e o daquele em que o Senhor fizer um sinal singular, deste será ela a esposa.
Saíram os arautos por toda a região da Judéia e, ao soar a trombeta do Senhor, todos acudiram.

IX

José, deixando de lado sua acha, uniu-se a eles. Uma vez que se juntaram todos, tomaram cada qual seu bastão e puseram-se a caminho, à procura do sumo sacerdote. Este tomou todos os bastões, entrou no templo e pôs-se a orar. Terminadas as suas preces, tomou de novo os bastões e os entregou, mas em nenhum deles apareceu sinal algum. Porém, ao pegar José o último, eis que uma pomba saiu dele e se pôs a voar sobre sua cabeça. Então o sacerdote disse:
— A ti coube a sorte de receber sob tua custódia a Virgem do Senhor.
José replicou:
— Tenho filhos e sou velho, enquanto que ela é uma menina. Não gostaria de ser objeto de zombaria por parte dos filhos de Israel.
Então tornou o sacerdote:
— Teme ao Senhor teu Deus e tem presente o que fez Ele com Datan, Abiron e Corê, de como abriu-se a terra e foram sepultados por sua rebelião. Teme agora tu também, José, para que não aconteça o mesmo a tua casa.
Ele, cheio de temor, recebeu-a sob proteção. Depois, disse-lhe:
— Tomei-te do templo. Deixo-te agora em minha casa e vou continuar minhas construções. Logo voltarei. O Senhor te guardará.

X

Os sacerdotes, então, reuniram-se e concordaram em fazer um véu para o templo do Senhor.
O sumo sacerdote disse:
— Chama algumas donzelas sem mancha, da tribo de Davi.
Os ministros se foram e, depois de terem procurado, encontraram sete virgens. Então o sacerdote lembrou-se de Maria, a jovenzinha que, sendo de estirpe davídica, se conservava imaculada aos olhos de Deus. Os emissários foram buscá-la.
Depois de as terem introduzido no templo, disse o sacerdote:
— Vejamos qual há de bordar o ouro, o amianto, o linho, a seda, o zircão, o escarlate e a verdadeira púrpura.
O escarlate e a verdadeira púrpura couberam a Maria que, tomando-as, foi para casa.
Naquela época, Zacarias ficou mudo, sendo substituído por Samuel, até quando pôde falar novamente. Maria tomou em suas mãos o escarlate e pôs-se a tecê-lo.

XI

Certo dia, pegou Maria um cântaro e foi enchê-lo de água. Eis que ouviu uma voz que lhe dizia:
— Deus te salve, cheia de graça! O Senhor está contigo, bendita és entre as mulheres!
Ela olhou a sua volta, à direita, à esquerda, para ver de onde vinha aquela voz. Tremendo, voltou para casa, deixou a ânfora, pegou a púrpura, sentou-se no divã e pôs-se a tecê-la. Logo um anjo do Senhor apresentou-se diante dela, dizendo:
— Não temas, Maria, pois alcançaste graça ante o Senhor onipotente e vais conceber por Sua palavra!
Ela, ao ouví-lo, ficou perplexa e disse consigo mesma:
— Deverei eu conceber por virtude de Deus vivo e haverei de dar à luz como as demais mulheres?
Ao que lhe respondeu o anjo:
— Não será assim, Maria, pois que a virtude do Senhor te cobrirá com sua sombra. Depois, o fruto santo que deverá nascer de ti será chamado de Filho do Altíssimo. Chamar-lhe-ás Jesus, pois Ele salvará seu povo de suas iniqüidades. Então, disse Maria:
— Eis aqui a escrava do Senhor em Sua presença. Que isto aconteça a mim conforme Sua palavra.

XII

Concluído seu trabalho com a púrpura e o escarlate, levou-o ao sacerdote. Este a abençoou dizendo:
— Maria, o Senhor enaltecer seu nome e serás bendita entre todas as gerações da terra.
Cheia de alegria, Maria foi à casa de sua parente Isabel. Chamou-a da porta e, ao ouví-la, Isabel largou o escarlate, correu para a porta, abriu-a e, vendo Maria, louvou-a dizendo:
— Que fiz eu para que a mãe do meu Senhor venha a minha casa? Pois saiba que o fruto que carrego em meu ventre se pôs a pular dentro de mim, como que para bendizer-se.
Maria havia se esquecido dos mistérios que o anjo Gabriel lhe comunicara, elevou os olhos aos céus e disse:
— Quem sou eu, Senhor, para que todas as gerações me bendigam?
Passou três meses em casa de Isabel. Dia a dia seu ventre aumentava e, cheia de temor, pôs-se a caminho de casa e escondia-se dos filhos de Israel. Quando sucederam essas coisas, ela contava dezesseis anos.

XIII

Ao chegar Maria ao sexto mês de gravidez, voltou José de suas construções e, ao entrar em casa, deu-se conta de que ela estava grávida. Então, feriu seu próprio rosto, jogou-se no chão sobre uma manta e chorou amargamente, dizendo:
— Como é que me vou apresentar agora diante do meu Senhor? E que oração direi eu agora por esta donzela, pois que a recebi virgem do templo do Senhor e não a soube guardar? Será que a história de Adão se repetiu comigo? Assim como no instante em que ela estava glorificando a Deus veio a serpente e, ao encontrar Eva sozinha, a enganou, o mesmo me aconteceu.
Levantando-se, José chamou Maria e disse-lhe:
— Predileta como eras de Deus, como foste capaz de fazer isso? Acaso te esqueceste do Senhor teu Deus? Com pudeste vilipendiar tua alma, tu que te criaste no Santo dos Santos e recebeste alimento das mãos de um anjo?
Ela chorou amargamente dizendo:
— Sou pura e não conheço varão algum.
Replicou José:
— De onde, pois, provém o que carregas no seio?
Ao que Maria respondeu:
— Pelo Senhor, meu Deus, eu juro que não sei como aconteceu.

XIV

José encheu-se de temor, retirou-se da presença de Maria e pôs-se a pensar sobre o que faria com ela. Dizia consigo próprio:
— Se escondo seu erro, contrario a lei do Senhor. Se a denuncio ao povo de Israel, temo que o que acontecer a ela se deva a uma intervenção dos anjos e venha a entregar à morte uma inocente. Como deverei proceder, pois? Mandá-la embora às escondidas.
Enquanto isso, caiu a noite. Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo-lhe:
— Não temas por esta donzela, pois o que ela carrega em suas entranhas é fruto de um espírito santo. Dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, pois que ele há de salvar seu povo dos pecados.
Ao despertar, José levantou-se, glorificou a Deus de Israel por haver-lhe concedido tal graça e continuou guardando Maria.

XV

Por essa ocasião, veio à casa de José um escriba chamado Anás, que lhe disse:
— Por que não compareceste à nossa reunião?
Respondeu-lhe José:
— Estava cansado da caminhada e decidi repousar este primeiro dia.
Ao voltar-se, Anás deu-se conta da gravidez de Maria.
Então, correu ao sacerdote, dizendo-lhe:
— Esse José, por quem respondes, cometeu uma falta grave.
— Que queres dizer com isso? — perguntou o sacerdote. Ao que respondeu Anás:
— Pois violou aquela virgem que recebeu do templo de Deus, com fraude de seu casamento e sem manifestá-lo ao povo de Israel.
Disse o sacerdote:
— Estás certo de que foi José que fez tal coisa?
Replicou Anás:
— Envia uma comissão e te certificarás de que a donzela está realmente grávida.
Saíram os emissário e encontraram-na tal qual havia dito Anás. Por isso levaram-na, juntamente com José, ante o tribunal.
O sacerdote iniciou, dizendo:
— Maria, como fizeste tal coisa? Que te levou a vilipendiar tua alma e esquecer-te do Senhor teu Deus? Tu que te criaste no Santo dos Santos, que recebias alimento das mãos de um anjo, que escutaste os hinos e que dançavas na presença de Deus? Como fizeste isso?
Ela se pôs a chorar amargamente, dizendo:
— Juro pelo Senhor meu Deus que estou pura em sua presença e que não conheci varão.
Então o sacerdote dirigiu-se a José, perguntando-lhe:
— Por que fizeste isso?
Replicou José:
— Juro pelo Senhor meu Deus, que me encontro puro com relação a ela.
Acrescentou o sacerdote:
— Não jures em falso! Dize a verdade! Usaste fraudulentamente o matrimônio e não o deste a conhecer ao povo de Israel. Não abaixaste tua cabeça sob a mão poderosa de Deus, por quem sua descendência havia sido bendita.
José guardou silêncio.

XVI

— Devolve, pois — continuou o sacerdote, — a virgem que recebeste do templo do Senhor.
José ficou com os olhos marejados em lágrimas. Acrescentou ainda o sacerdote:
— Farei com que bebais da água da prova do Senhor e ela vos mostrará, diante de vossos próprios olhos, vossos pecados.
Tomando da água, fez José bebê-la, enviando-o em seguida à montanha, de onde voltou são e salvo. Fez o mesmo com Maria, enviando-a também à montanha, mas ela voltou sã e salva.
Toda a cidade encheu-se de admiração ao ver que não havia pecado neles.
Disse o sacerdote:
— Posto que o Senhor não declarou vosso pecado, tampouco irei condenar-vos.
Então despediu-os. Tomando Maria, José voltou para casa cheio de alegria e louvado ao Deus de Israel.

XVII

Veio uma ordem do imperador Augusto para que se fizesse o censo de todos os habitantes de Belém da Judéia.
Disse José:
— A meus filhos posso recensear, mas que farei desta donzela? Como vou incluí-la no censo? Como minha esposa? Envergonhou-me. Como minha filha? Mas já sabem todos os filhos de Israel que não é! Este é o dia do Senhor, que se faça a sua vontade.
Selando sua asna, fez com que Maria se acomodasse sobre ela. Enquanto um de seus filhos ia à frente, puxando o animal pelo cabresto, José os acompanhava. Quando estavam a três milhas de distância de Belém, José virou-se para Maria e viu que ela estava triste.
Disse consigo mesmo:
— Deve ser a gravidez que lhe causa incômodo.
Ao voltar-se novamente, encontrou-a sorrindo e indagou-lhe:
— Maria, que acontece, pois que algumas vezes te vejo sorridente e outras triste?
Ela lhe disse:
— É que se apresentam dois povos diante de meus olhos: um que chora e se aflige e outro que se alegra e se regozija.
Ao chegar à metade do caminho, disse Maria a José:
— Desça-me, porque o fruto de minhas entranhas luta por vir à luz.
Ele a ajudou a apear da asna, dizendo-lhe:
— Aonde poderia eu levar-te para resguardar teu pudor, já que estamos em campo aberto?

XVIII

Encontrando uma caverna, levou-a para dentro e, havendo deixado seus filhos com ela, foi buscar uma parteira na região de Belém.
Eis que José encontrou-se andando, mas não podia avançar. Ao levantar seus olhos para o espaço, pareceu lhe ver como se o ar estivesse estremecido de assombro. Quando fixou vista no firmamento, encontrou-o estático e os pássaros do céu, imóveis. Ao dirigir seu olhar à terra, viu um recipiente no solo e uns trabalhadores sentados em atitude de comer, com suas mãos na vasilha. Os que pareciam comer, na realidade não mastigavam, e os que estavam em atitude de pegar a comida, tampouco a tiravam do prato. Finalmente, os que pareciam levar os manjares à boca, não o faziam, ao contrário, tinham seus rostos voltados para cima.
Também havia umas ovelhas que estavam sendo tangidas, mas não davam um passo. Estavam paradas. O pastor levantou sua destra para bater-lhes com um cajado, mas parou sua mão no ar.
Ao dirigir seu olhar à corrente do rio, viu como uns cabritinhos punham nela seus focinhos, mas não bebiam. Em uma palavra, todas as coisas estavam afastadas, por uns instantes, de seu curso normal.

XIX

Então uma mulher que descia da montanha disse-lhe:
— Aonde vais?
Ao que ele respondeu:
— Ando procurando uma parteira hebréia.
Ela replicou:
— Mas és de Israel?
Ele respondeu:
— Sim.
— E quem é a que está dando à luz na caverna?
— É minha esposa.
— Então, não é tua mulher?
Ele respondeu:
— É Maria, a que se criou no templo do Senhor, e ainda que me tivesse sido dada por mulher, não o é, pois que concebeu por virtude de um espírito santo.
Insistiu a parteira:
— Isso é verdade?
José respondeu:
— Vem e verás.
Então a parteira se pôs a caminho junto com ele. Ao chegar à gruta, pararam, e eis que esta estava sombreada por uma nuvem luminosa.
Exclamou a parteira:
— Minha alma foi engrandecida, porque meus olhos viram coisas incríveis, pois que nasceu a salvação para Israel. De repente, a nuvem começou a sair da gruta e dentro brilhou uma luz tão grande que seus olhos não podiam resistir. Esta, por um momento, começou a diminuir tanto que deu para ver o menino que estava tomando o peito da mãe, Maria. A parteira então deu um grito, dizendo:
— Grande é para mim o dia de hoje, já que pude ver com meus próprios olhos um novo milagre.
Ao sair a parteira da gruta, veio ao seu encontro Salomé.
— Salomé, Salomé! — exclamou. — Tenho de te contar uma maravilha nunca vista. Uma virgem deu à luz; coisa que, como sabes, não permite a natureza humana.
Salomé replicou:
— Pelo Senhor, meus Deus, não acreditarei em tal coisa, se não me for dado tocar com os dedos e examinar sua natureza.

XX

Havendo entrado a parteira, disse a Maria:
— Prepara-te, porque há entre nós uma grande querela em relação a ti.
Salomé, pois, introduziu seu dedo em sua natureza, mas, de repente, deu um grito, dizendo:
— Ai de mim! Minha maldade e minha incredulidade é que têm a culpa! Por descrer do Deus vivo, desprende-se de meu corpo minha mão carbonizada.
Dobrou os joelhos diante do Senhor, dizendo:
— Ó Deus de nossos pais! Lembra-te de mim, porque sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não faças de mim um exemplo para os filhos de Israel! Devolve-me curada, porém, aos pobres, pois que tu sabes, Senhor, que em teu nome exercia minhas curas, recebendo de ti meu salário!
Apareceu um anjo do céu, dizendo-lhe:
— Salomé, Salomé, Deus escutou-te. Aproxima tua mão do menino, toma-o e haverá para ti alegria e prazer.
Acercou-se Salomé e o tomou, dizendo:
— Adorar-te-ei, porque nasceste para ser o grande Rei de Israel.
De repente, sentiu-se curada e saiu em paz da gruta. Nisso ouviu uma voz que dizia:
— Salomé, Salomé, não contes as maravilhas que viste até estar o menino em Jerusalém.

XXI

José dispôs-se a partir para Judéia. Por essa ocasião, sobreveio um grande tumulto em Belém, pois vieram um magos dizendo:
— Aonde está o recém-nascido Rei dos Judeus, pois vimos sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo?
Herodes, ao ouvir isso, perturbou-se. Enviou seus emissários aos magos e convocou os príncipes e os sacerdotes, fazendo-lhes esta pergunta:
— Que está escrito em relação ao Messias? Aonde ele vai nascer?
Eles responderam:
— Em Belém da Judéia, segundo rezam as escrituras. Com isso, despachou-os e interrogou os magos com estas palavras:
— Qual é o sinal que vistes em relação ao nascimento desse rei?
Responderam-lhes os magos:
— Vimos um astro muito grande, que brilhava entre as demais estrelas e as eclipsava, fazendo-as desaparecer. Nisso soubemos que a Israel havia nascido um rei e viemos com a intenção de adorá-lo.
Replicou Herodes:
— Ide e buscai-o, para que também possa eu ir adorá-lo!
Naquele instante, a estrela que haviam visto no Oriente voltou novamente a guiá-los, até que chegaram à caverna e pousou sobre a entrada dela. Vieram, então, os magos a ter com o Menino e Sua mãe, Maria, e tiraram oferendas de seus cofres: ouro, incenso e mirra.
Depois, avisados por um anjo para que não entrassem na Judéia, voltaram a suas terras por outro caminho.

XXII

Ao dar-se conta Herodes de que havia sido enganado, encolerizou-se e enviou seus sicários, dando-lhes a missão de assassinar todos os meninos de menos de dois anos.
Quando chegou até Maria a notícia da matança das crianças, encheu-se de temor e, envolvendo seu filho em fraldas, colocou-o numa manjedoura.
Quando Isabel inteirou-se de que também buscavam a seu filho João, pegou-o e levou-o a uma montanha. Pôs-se a ver onde haveria de escondê-lo, mas não havia um lugar bom para isso. Entre soluços, exclamou em voz alta:
— Ó Montanha de Deus, recebe em teu seio a mãe com seu filho, pois que não posso subir mais alto.
Nesse instante, abriu a montanha suas entranhas para recebê-los. Acompanhou-os uma grande luz, pois estava com ele um anjo de Deus para guardá-los.

XXIII

Herodes prosseguia na busca de João e enviou seus emissários a Zacarias para que lhe dissessem:
— Aonde escondeste teu filho?
Ele respondeu desta maneira:
— Eu me ocupo do serviço de Deus e me encontro sempre no templo. Não sei onde está meu filho.
Os emissários informaram a Herodes tudo o que se passara e ele encolerizou-se muito, dizendo consigo mesmo:
— Deve ser seu filho que vai reinar em Israel.
Enviou, então, um outro recado, dizendo-lhe:
— Diga-nos a verdade sobre onde está teu filho, porque do contrário bem sabes que teu sangue está sob minhas mãos.
Zacarias respondeu:
— Serei mártir do Senhor, se te atreveres a derramar meu sangue, porque minha alma será recolhida pelo Senhor, ao ser segada uma vida inocente no vestíbulo do santuário. Ao romper da aurora, foi assassinado Zacarias, sem que os filhos de Israel se dessem conta desse crime.

XXIV

Os sacerdotes se reuniram à hora da saudação, mas Zacarias não saiu a seu encontro, como de costume, para abençoá-los. Puseram-se a esperá-lo para saudá-lo na oração e para glorificar o Altíssimo.
Ante sua demora, começaram a ter medo. Tomando ânimo, um deles entrou, viu ao lado do altar sangue coagulado e ouviu uma voz que dizia:
— Zacarias foi morto e não se limpará o seu sangue até que chegue o vingador.
Ao ouvir a voz, encheu-se de temor e saiu para informar os sacerdotes que, tomando coragem, entraram e testemunharam o ocorrido. Então, os frisos do templo rangeram e eles rasgaram suas vestes de alto a baixo.
Não encontraram o corpo, somente a poça de sangue coagulado. Cheios de temor, saíram para informar a todo o povo que Zacarias havia sido assassinado. A notícia correu em todas as tribos de Israel, que o choraram e guardaram luto por três dias e três noites.
Concluído esse tempo, reuniram-se os sacerdotes para deliberar sobre quem iriam pôr em seu lugar. Recaiu a sorte sobre Simeão, pois, pelo espírito, havia sido assegurado de que não veria a morte até que lhe fosse dado contemplar o Messias Encarnado.

XXV

Eu, Tiago, escrevi esta história. Ao levantar-se um grande tumulto em Jerusalém, por ocasião da morte de Herodes, retirei-me ao deserto até que cessasse o motim, glorificando ao Senhor meu Deus, que me concedeu a graça e a sabedoria necessárias para compor esta narração.
Que a graça esteja com todos aqueles que temem a Nosso Senhor Jesus Cristo, para quem deve ser a glória.

Madalena e o segredo do Código Da Vinci

Frei Jacir de Freitas Faria, ofm
Pesquisador dos Evangelhos Apócrifos.

O grande mérito do filme Código Da Vinci foi o de levar milhões de pessoas a ouvir a frase: “Madalena não era prostituta”. Não se pode negar também que o Código Da Vinci desafia a Igreja Católica ao afirmar que ela escondeu verdades sobre Jesus e Madalena, que se reveladas mudaria o curso da humanidade. Quais são estas verdades? Primeira, Jesus foi simplesmente humano e não divino. A sua divindade foi uma farsa que se impôs pela pregação apostólica e pelo Império Romano. O divino de Jesus está atrelado à Igreja Católica conferindo-lhe poder. Tirar o poder da Igreja é desvinculá-la do Divino. Segundo segredo: Madalena era a esposa de Jesus e exerceu o papel de deusa. Foi ela quem recebeu a tarefa de conduzir a Igreja e não Pedro.

O filme, para quem já leu o livro, logo percebe que a literatura escrita é melhor. O filme atenuou alguns diálogos polêmicos, mas consegue prender a atenção do leitor de Código Da Vinci. Para o público que se depara pela primeira vez com a temática, o filme vai parecer monótono e de difícil compreensão.

Na verdade, Código Da Vinci se enquadra muito bem no seu gênero literário de ficção e assim deve ser visto. A revelação do segredo parece não convencer o telespectador. Apresentar ou buscar um descente de Jesus é o mesmo que buscar “chifre na cabeça de cavalo”. Terminar mostrando a imagem de Madalena morta debaixo das pirâmides do Louvre é o mesmo que atestar não ter a resposta para pergunta colocada à mesa.

O grande problema de Código Da Vinci é que ele conta mentira como se fosse história e fala de história como uma quase mentira. Explico-me. Não são reais, por exemplo, alguns dados tidos como históricos: a) A ligação dos Cavaleiros Templários com o Priorado de Sião não procede. B) Leonardo Da Vinci nunca foi grão mestre do Priorado de Sião e morreu declarando fé em Jesus, Maria e anjos e não em uma deusa. C) O Priorado de Sião existe desde 1956. D) A votação no Concílio de Nicéia sobre a divindade de Jesus não foi apertada. Somente dois bispos, dos 318, votaram contra.

Mas voltemos ao tema que originou a nossa reflexão: Madalena e o segredo, isto seu amor e relação marital com Jesus. Madalena amou Jesus e Jesus teve por ela uma predileção especial. Não precisa ser necessariamente uma relação marital, mas de afinidade e de integração do masculino e feminino, que nos inspira novas relações de gênero, o que também não nos impede dizer que uma relação marital de Jesus não o faria menos divino. Outros diriam que sim, pois isso nos traria um problema teológico grave. O filho (a) de Jesus com Madalena seria neto de Deus. Bom, mas se isso foi o caminho seguido por Jesus, a nossa teologia e nosso modo de ver e se relacionar com Deus também seriam diferente.

Inspirados em textos canônicos, podemos dizer Madalena viveu intensamente a experiência da paixão e da ressurreição de Jesus. Aos pés da cruz, ela contempla o seu amado morto. A cruz simboliza a morte violenta, o fim de tudo. No entanto, ela quer retê-lo com vida, mas isto não é lhe é possível. Maria Madalena sabe que o seu amado não pode morrer. Por isso, ela não pára na cruz. Sai a caminho, em busca de Jesus. Ela quer encontrá-lo em outro lugar que não seja a cruz, embora esse também seja o lugar daqueles que amam em profundidade. O caminho de Madalena foi de anunciadora do ressuscitado, Aquele que não morreu, mas vive eternamente, ainda que ausente. Madalena foi uma apóstola de Jesus.

Madalena foi também a apóstola silenciada pelo poder hegemônico masculino. Em Diálogo do Salvador 139, 12-13, Madalena, Tomé e Mateus são os discípulos escolhidos para receber ensinamentos especiais de Jesus, no entanto, Madalena tem primazia sobre eles. Num livro de oração dos Maniqueus, grupo religioso do séc. III considerado herético, se encontra uma passagem que chama Madalena de Apóstola de Jesus. No entanto, não foi propriamente assim que ocorreu ao longo da história do cristianismo, Maria Madalena foi estigmatizada como mito de pecadora redimida. De prostituta virou santa para morar no imaginário coletivo como mulher forte e exemplo de vida cristã. Infelizmente, esse foi um bem, que para se firmar, teve que fazer uso de inverdades. A ligação errônea das passagens evangélicas que falam dela levou a identificá-la com a prostituta que ungiu os pés de Jesus (Lc 7,36-50). E esse erro, infelizmente, virou verdade de fé. O inconsciente coletivo guardou na memória a figura de Maria Madalena como mito de pecadora redimida. Fato considerado normal nas sociedades patriarcais antigas. A mulher era identificada com o sexo e ocasião de pecado por excelência.

O Evangelho de Maria Madalena nos fala de uma mulher liderança e apóstola entre os primeiros cristãos. Escrito no ano 150 d.C., este evangelho reflete o pensamento dos gnósticos. Estes acreditavam, dentre outras coisas, que Deus tem a feição de mãe e pai. A nossa origem é integrada e para lá devemos retornar. Madalena era para eles o modelo de gnóstica perfeita, capaz de nos levar à salvação, ao mundo espiritual de onde viemos e queremos retornar. Neste contexto gnóstico, a relação amorosa de Jesus e Madalena é perfeitamente compreensível. Jesus e Madalena são encarnações da realidade espiritual, prefigurada no amor humano. Madalena representa o espírito feminino que se une espiritualmente ao masculino, Jesus. Assim, a unidade que existia inicialmente no Pleroma (Espírito Perfeito) é re-estabelecida no casamento dos espíritos gnósticos.

O apócrifo Perguntas de Maria admite a relação marital entre Jesus e Madalena. Esta opinião, no entanto, foi rejeitada na época por outros apócrifos. O beijo entre Jesus e Madalena, testemunhado pelo Evangelho de Filipe, referido em Código Da Vinci, significa transmissão do saber, conhecimento. Judas também beijou Jesus para dá-lo a conhecer aos romanos. Não podemos afirmar, baseando-se nas tradições canônicas e apócrifas que Jesus e Madalena eram casados. Como dizíamos no início de nossa reflexão, vista por outro ângulo, está questão é pertinente para os nossos dias. A Igreja, historicamente, acentuou muito o sexo como pecado. Gerar a vida numa sexualidade integrada é divino, é de Deus. Jesus não deixaria de ser menos divino se tivesse vivido a sexualidade também na dimensão marital. No entanto, não foi este o seu caminho. Imagino o amor entre eles como o de São Francisco e Santa Clara. Dan Brown não tem razão quando apela para o segredo do casamento de Jesus e Madalena como revolução na fé. Por outro lado, ele põe na pauta do dia a busca de novas relações entre homens e mulheres. Dizer que a Igreja Católica escondeu estes fatos revelados, sobretudo sobre Jesus, sua divindade e relação amorosa com Madalena, e que agora esta verdade está revelada pelas penas de um escritor ficcionista é desmerecer toda a tradição de fé, transmitida pela tradição apostólica e comunidades. Uma farsa não se sustentaria por tantos séculos. Houve brigas internas e disputa de poder no início do cristianismo? Sim. A mulher, Madalena, foi desmerecida na sua liderança apostólica e relegada por ter uma relação especial com Jesus? Sim. No entanto, as conclusões de Dan Brown não se sustentam, porque negam verdades históricas. Mas vale a pena ver Código Da Vinci como ficção.

Nisso tudo, uma outra conclusão se impõe: Madalena é um misto de paixão, harmonia e plenitude que nos leva ao Sagrado, ao Divino e nos faz cada vez mais humanos! O resto é pura especulação.

(Artigo publicado no Jornal Estado de Minas, Pensar, 03/06/2006)

O Evangelho de Judas - Traidor ou libertador?

A descoberta e tradução do Evangelho de Judas despertou polêmicas sobre o seu papel na história. Teria Jesus pedido a Judas para que o traísse? Qual o significado desta descoberta e da traição de Judas? Qual é o contexto do Evangelho de Judas? Judas deixou de ser traidor para se tornar libertador? Qual a importância desta descoberta para o cristianismo?

1. Judas em fragmentos apócrifos

A descoberta do Evangelho de Judas não é primeira informação que temos sobre este personagem importante na história do cristianismo. Outras histórias foram conservadas sobre ele. Como veremos, elas não vão de encontro com os relatos do Evangelho de Judas.

Alguns fragmentos de textos coptas, chamados assim porque foram encontrados nesta língua, considerada um dialeto do grego, falado no Egito. Eles foram escritos entre os séculos V e VII da Era Comum. As histórias sobre Judas contadas nestes textos são:

a) Na multiplicação dos pães, Judas foi o último a distribuir os pães para a multidão.

b) Num fragmento intitulado A história da mulher de Judas conta que ela, considerada má, recebia o dinheiro que Judas roubava da bolsa comum dos apóstolos. Ele não dava o dinheiro para os pobres, mas para a sua mulher, que se alegrava com essa sua atitude. Quando Judas chegava em casa sem dinheiro, ela zombava dele. A sua mulher era tão perversa, segundo o texto, que foi ela quem sugeriu a Judas entregar o seu Mestre Jesus aos judeus em troca de dinheiro. Judas aceitou a sugestão da mulher e com isso, entregou sua alma para o Demônio. O texto liga a ação da mulher de Judas com Adão que se deixou levar por Eva. Judas recebeu o dinheiro dos judeus e o levou para a sua perversa mulher. E o texto termina bruscamente. Esta história quis transferir para a mulher a culpa de Judas, o que era importante na visão machista da época.

c) Nesta mesma linha, a de transferir a culpa de Judas para a sua mulher, um outro fragmento apócrifo conta que no dia em que Judas entregou Jesus e recebeu as 30 pesos de prata, o filho de José de Arimatéia, de apenas 7 meses, que era amamentado (criado) pela mulher de Judas, não quis mais alimentar-se. José de Arimatéia foi à casa de Judas. O menino, então, disse: -“Vem, meu pai, e tira-me das mãos desta mulher, que é uma fera selvagem”. Ouvindo isso, o pai o levou consigo.

d) Significativo e contrário ao Evangelho de Judas, há um fragmento apócrifo que narra o encontro de Jesus com Judas, depois da morte. Quando Jesus morreu, ele desceu à mansão dos mortos antes de ressuscitar. Ali, ele salvou a muitos. Encontrando-se com Judas, Jesus lhe disse: “que vantagem tiveste, entregando-me? Sofri todas as dores para salvar uma criatura. Mas ai de ti, Judas! Caia sobre ti duplo anátema e dupla maldição”. E o texto termina: “A parte de Judas é a mesma do diabo. Seu nome foi cancelado do livro da vida. Seu destino não está no número dos viventes. Sua lembrança foi destruída, apagada a sua estrela. Com ele Satanás recebe também a sua condenação, pois está coberto de desprezo. Foi-lhe tirado o posto, roubada a coroa. Estranhos tomaram-lhe os bens e ele se revestiu de maldição. Foi contaminado como água suja. Foi-lhe roubado o seu hábito de glória. A luz de sua candeia foi apagada. Sua casa ficou deserta. Seus dias foram abreviados. Esgotou-se sua vida. Não há mais paz. A dor veio a seu encontro. Foi agarrado pela trevas, tornou-se herança do verme. Está coberto de podridão”.

2. O contexto do Evangelho de Judas

Se os textos acima estão datados entre os séculos V e VII, o Evangelho de Judas e sua tradução para o copta encontram-se em uma época bem anterior. A existência de um tal Evangelho de Judas já é conhecida desde o ano 180 d.C, quando Santo Irineu, Bispo de Liyon (Gália Romana), mencionou em seu tratado Contra as Heresias este evangelho, catalogando como pertencente a um grupo de heréticos, chamados de cainitas, originários dos gnósticos. Para Irineu este evangelho é ficção. Também Santo Epifânio, Bispo de Salamina, em 375 mencionou o Evangelho de Judas, classificando-o da mesma forma que Irineu.

A datação do Evangelho de Judas recai sobre o século II, em torno ao ano 150. O manuscrito encontrado recentemente é datado entre o início do século III e início do século IV.
O contexto do Evangelho de Judas remete aos gnósticos, grupo que influenciou o cristianismo emergente (120 a 240 E.C.) e se estendeu até o séc. VIII em várias ramificações, na Palestina, Ásia Menor, Egito, Síria, Arábia, Pérsia e Roma . Valentino, um teólogo do séc. II da E.C., tornou-se notório na influência recebida dos gnósticos e divulgação do pensamento gnóstico em suas obras. No ano 381 da E.C., quando o imperador Teodósio I reconheceu oficialmente um único ramo do cristianismo como ortodoxia católica no Império Romano, os gnósticos e outros tantos grupos considerados “heréticos” foram perseguidos e aniquilados.

O grupo dos gnósticos vivia de modo coeso e sectário, o que não lhes faltou resistências advindas do mundo cristão. Eles tinham um modo próprio de se comunicar e levavam uma vida ascética. Aqueles que entravam no grupo passavam por um batismo ritual. Os gnósticos acreditavam que os seres humanos estariam divididos entre gnósticos e não-gnósticos. Ser gnóstico era o mesmo que “ser capaz de alcançar o conhecimento”. Gnosis é um substantivo grego que significa “conhecimento” de modo profundo. Segundo o mito gnóstico das origens, um “Salvador celestial foi enviado para ‘despertar’ a humanidade gnóstica, para dar-lhe o conhecimento (gnosis) de si mesma e de deus, para libertar as almas do destino e da escravidão do corpo material, e para ensiná-las como escapar à influência dos malévolos ‘governantes’. Para contrapor-se ao mau espírito desses governantes, um bom espírito foi derramado sobre os gnósticos. Conforme a maneira como reage e adquire conhecimento, a alma escapa e retorna a deus, ou se reencarna em outro corpo; uma ‘punição eterna’ especial está reservada aos apóstatas da seita”. Assim, os gnósticos defendiam que a salvação era adquirida através do conhecimento de Deus.

Algumas correntes gnósticas acreditavam que Deus, na sua essência, tinha o elemento feminino e masculino. Deus era visto como “Mãe-Pai”.

Tendo Set, filho de Adão, como ancestral e modelo, cada gnóstico procurava viver na contemplação e no ascetismo, negando a matéria, o corpo que aprisiona a alma que deve ser libertada. Jesus era exemplo de gnóstico perfeito. As mulheres eram mestras e sacerdotisas em alguns grupos gnósticos, embora considerassem, sob influência das filosofias da época, que a matéria criada era feminina. Grupos gnósticos chegaram a ser hostis à mulher. Membros desse segundo grupo chegaram a colocar na boca de Pedro o pedido a Jesus que expulsasse a mulher Madalena do meio deles, pois essas não eram dignas da vida (Evangelho de Tomé, 114).

Os gnósticos ensinavam que cada pessoa podia atingir a salvação através da harmonia e da busca interior. Não eram necessárias as instituições e suas práticas ritualísticas para atingir a salvação. Como conseqüência dessa visão, a salvação tinha um caráter mais pessoal que coletivo. Não importaria tanto a visão messiânica e revolucionária que o cristianismo defendia. E é nesse contexto de libertação espiritual que podemos compreender a negação do corpo. Os docetas e encratistas, grupos originários dos gnósticos, ensinavam, respectivamente, que a encarnação de Jesus era só aparente e que a abstinência sexual, a virgindade era um caminho seguro de salvação. O sofrimento de Jesus na cruz, não poderia, segundo os gnósticos, salvar àqueles que aderissem à Igreja de Cristo. Por esse e outros motivos, a Igreja lutou ferrenhamente contra os gnósticos, relegando-os à heresia. Com isso, o que era bom e ruim do gnosticismo foi condenado ao ostracismo.

O Evangelho de Judas foi escrito por um grupo de gnósticos que se intitulavam Cainitas, nome derivado de Caim, filho de Adão. Eles consideravam Caim e Judas Iscariotes como modelos de gnósticos. Caim e Judas representavam o lado mal do deus criador. Eles mataram o bem (Abel e Jesus) para que eles pudessem vencer o mal. Os gnósticos cainitas eram considerados um dos grupos mais libertinos da época. A inspiração em Judas tinha como objetivo encontrar a salvação. Judas, ao trair Jesus ou aceitar o pedido de traição, teria cumprido o seu papel na história cristã, o de revelar o conhecimento que salva. Assim, a traição de Judas estaria em função de Jesus, de sua libertação. Judas teve a capacidade de conhecer a verdade sobre o mistério da salvação trazida por Jesus. E foi por isso que ele consumou o mistério da traição.

3 . Judas no Evangelho de Judas

Considerado texto perdido até 1978, quando foi descoberto uma tradução do texto original grego para o copta, nas proximidades da cidade de El Minya, no Alto Egito, o Evangelho de Judas consta de 26 páginas. Ele foi vendido na Europa, chegou aos Estados Unidos e ali permaneceu em um cofre durante 16 anos. Em 2001 iniciou-se o seu processo de restauração e tradução.
O livro apresenta temáticas do pensamento gnóstico, colocadas na boca de Jesus, de Judas e os apóstolos. Vários diálogos são travados entre Jesus e Judas, o mestre e o discípulo. Este procedimento era normal entre os gnósticos. Outros evangelhos apócrifos gnósticos têm o mesmo gênero literário. Vejamos alguns trechos do Evangelho e seu comentário .
Judas: o discípulo predileto

O Evangelho de Judas começa afirmando que o texto se trata do “relato secreto da revelação que Jesus falou em conversação com Judas Iscariotes durante uma semana, três dias antes de ter celebrado a Páscoa”.

Entre os gnósticos era comum este tipo de procedimento, o mestre revela segredos para os seus discípulos prediletos. Outros apócrifos gnósticos falam que Jesus revelou segredos para Maria Madalena, Tomé, etc. Este último, que nos canônicos duvida da ressurreição de Jesus, nos apócrifos recebe a revelação de três segredos de Jesus. Os outros apóstolos lhe pedem para revelá-los e Tomé se nega, dizendo que coisas terríveis aconteceriam se ele revelasse tais segredos. Também nos evangelhos canônicos, Jesus revela ou explica questões para os apóstolos em particular. Quem não fazia parte do grupo próximo a Jesus tinha dificuldade de entender os seus ensinamentos. João, nos canônico, é considerado o Discípulo Amado, predileto. Sem conhecer este modo de procedimento judaico ou literário daquele tempo, isto é, de um apontar um discípulo predileto do Mestre, não podemos entender o alcance deste tipo de revelação no Evangelho de Judas. Portanto, baseando-se somente no Evangelho de Judas não podemos dizer que ele era o discípulo predileto.
A revelação de Jesus para Judas está situada na semana da Páscoa, três dias antes desta festa magna do judaísmo. O número três situa o fato na esfera do divino. Trata-se de um simbolismo.

Jesus não aparece em forma humana e ri

A cena seguinte do Evangelho de Judas fala do ministério de Jesus na terra. Interessante que aqui se diz “ele freqüentemente não aparecia para os seus discípulos como ele mesmo, mas era encontrado entre eles como uma criança”. Para os gnósticos o humano, o histórico de Jesus não conta, mas o sublime, a realidade superior de onde ele veio. Apresentar-se como criança significa dizer que ele está aberto e puro para receber o conhecimento que conduz à salvação. O Evangelho apócrifo gnóstico de Tomé 22 diz que o Reino é semelhante a crianças que se amamentam. Este mesmo tipo de relação aparece nos evangelhos canônicos. O detalhe no Evangelho de Judas é o próprio Jesus, que se apresenta em forma de criança. Esta condição lhe possibilitava revelar segredos do além e dos fins dos tempos. Esta outra realidade, segundo os gnósticos era chamada de Pleroma, a realidade de onde ele provinha. Como gnóstico perfeito, Jesus teria o poder de salvar a todos que o conhecessem.

Estando na Judéia, com seus discípulos, Jesus ri durante a oração sobre o pão, na Oração de Ação de Graças ou Eucaristia. Os discípulos lhe perguntam pelo motivo do riso: “Mestre, por que você está rindo de nossa Oração de Graças? Nós fizemos o que está certo”. Jesus lhe explica que o seu riso é porque eles, os discípulos, rezam para um “deus” diferente do dele. E ele diz ainda mais: “Vocês me conhecem? Na verdade, eu digo a vocês, nenhuma geração das pessoas que estão entre vocês me conhecerá”.

Judas: o discípulo capaz de conhecer

A continuidade do episódio anterior mostra que os discípulos ficam irritados e começam a blasfemar. Jesus, percebendo que eles não são capazes de “conhecer” o que ele está explicando, porque o deus deles os levara a esta situação, pede alguém dentre eles que seja forte, perfeito o suficiente, para se apresentar diante da sua face. Neste momento, Judas Iscariotes entre em cena. Os outros não são capazes de realizar tal ato, de se apresentar diante de Jesus. Judas, diz o texto, “era capaz de ficar diante dele, mas não podia olhar em seus olhos, e desviou sua face”. Judas toma a palavra e diz para Jesus: “Eu sei quem você é e de onde veio. Você é do reino imortal de Barbelo. Eu não sou digno de pronunciar o nome de quem te enviou”.

Jesus, percebendo a capacidade de conhecer de Judas, o chamou a parte e lhe prometeu revelar os “segredos dos mistérios do reino”. Judas, no entanto, deveria estar preparado, porque ele sofreria muito com tal revelação. Quando Judas pergunta a Jesus pelo momento de tal revelação, ele desaparece.

Após esta afirmação a respeito de Judas, há uma longa descrição de uma nova aparição de Jesus e sua conversa com os apóstolos sobre o pensamento gnóstico: os imortais, eternidade, gerações. Há também uma narrativa de uma visão do Templo e seus sacerdotes. Jesus diz aos discípulos que ele os sacerdotes “planta árvores sem fruto em seu nome e de forma vergonhosa. Esta narrativa contra o poder hegemônico do cristianismo da época aparece também em outro textos gnósticos, como Apocalipse de Pedro 79, 22-30, referindo-se aos bispos e diáconos, os chamam de “canais sem água”. Estes relatos revelam o pensamento gnóstico que afirmava que não era necessário hierarquia eclesial para se chegar à salvação. Bastava um caminho pessoal, sem estruturas eclesiásticas. Todos os poderes, eclesiásticos ou não, eram considerados pelos gnósticos como malévolos. Eles poderiam impedir a libertação dos gnósticos e, por isso, deveriam ser combatidos.

4. Segredos revelados por Jesus a Judas

A continuidade do Evangelho descreve os segredos que Jesus revela a Judas, em um diálogo travado entre eles. Seguindo o pensamento gnóstico, Jesus expõe para a Judas a condição da raça humana: ela deve morrer para libertar-se do corpo terrestre; precisa conhecer a si mesma e Deus e voltar, libertada, para a sua origem; possui maus governantes. Jesus também explica a Judas a visão que ele teve, fala de Adão, Set, Anjos, Cosmos, caos, os batizados em seu nome, etc. Quanto mais Judas conhece, mais ele está preparado para cumprir a sua missão na terra. Destacamos algumas revelações importantes de Jesus em relação à pessoa de Judas, ao seu destino.

1. Judas é superior a todos os batizados. Ao afirmar isso, Jesus diz que os “batizados” cometem o mal e oferecem sacrifícios ao Deus não verdadeiro. Este tipo de revelação foi preparado no relato do evangelho, de modo que Judas pudesse ser reconhecido por Jesus com uma tarefa especial entre todos os humanos.

2. Judas, você será amaldiçoado e reinará sobre eles. Judas revela a Jesus uma visão que teve: “Eu vi a mim mesmo, enquanto os Doze discípulos me apedrejavam e me perseguiam”. Judas é colocado em oposição aos outros discípulos, que o apedrejam. Judas também pergunta a Jesus sobre o seu próprio destino e por que ele o havia escolhido dentre aquela geração, Jesus lhe diz “você tornar-se-á o décimo terceiro, será amaldiçoado por gerações, mas reinará sobre eles. O objetivo aqui é valorizar a figura de Judas, ao colocar na boca de Jesus estas revelações sobre ele. Judas vai superar os outros apóstolos porque ele vai cumprir o papel de libertar Cristo do corpo de Jesus. Vejamos o que isto significa no próximo segredo.

3. Você, Judas Iscariotes, deve “sacrificar o homem que me reveste”. Mesmo que o texto do Evangelho de Judas, neste trecho, faltem substantivos, nota-se que Jesus justifica seu pedido a Judas, dizendo que ele está bem preparado, sua ira tinha sido aplacada, a sua estrela já estava brilhando o suficiente. Para os gnósticos, cada ser humano está revestido de um “homem” que dever ser libertado, de modo que possamos voltar às raízes de onde viemos. Jesus estaria aprisionado a um corpo. Judas teria que cumprir a missão sublime de libertá-lo, de modo que a centelha divina presente em Jesus pudesse brilhar e, assim, ele voltar ao Plemora (realidade superior). O mito gnóstico da criação diz que Cristo é um ser metafísico que desce para unir-se a Jesus de Nazaré. Jesus é a encarnação de Cristo preexistente. O ato de Judas de sacrificar ou trair Jesus é perfeitamente compreensível na visão gnóstica. Ele não estaria “matando” Jesus, mas Cristo. Neste ponto do Evangelho de Judas encontra-se a polêmica criada em torno a esta descoberta. Mas isso não é novidade. Estudos do gnosticismo já nos evidenciaram este modo de pensar em outros textos. Considerar esta revelação, que não se firmou ao longo da tradição cristã, como verdadeira, é negar todo a historicidade do mistério da encarnação de Cristo no meio de nós e libertação que ele nos veio trazer. Por outro lado, é pena que o cristianismo fortaleceu muito a idéia da morte de cruz com o sofrimento e libertação de pecados. Na outra ponta da linha, se este segredo, o de entregar Jesus para libertá-lo do corpo, teria sido a missão de Judas, o cristianismo não teria se firmado como religião universal. Estamos, na verdade, diante de uma ficção. E aí temos que concordar com Santo Irineu. Um homem considerado mau, porque traiu, assim como Caim, que matou o seu irmão, gerando a violência nas origens, não pode ser considerado exemplo de salvação. Para os gnósticos e, muitos deles, também cristãos, isto era possível. Respeitemos ecumênicamente esta opinião e basta.

4. Judas é a estrela que mostra o caminho. Na seqüência do relato anterior, Jesus diz a Judas: “Levanta os olhos, vê a nuvem e a luz dentro dela e as estrelas ao redor. A estrela que mostra o caminho é a tua estrela”. Judas aqui é apresentado como estrela que aponta o caminho. Com isso ele estaria cumprindo o papel de libertar Jesus e trazer a salvação, com a traição, para todos. No evangelho canônico de Jo 13, 26-30, Jesus declara que um dos 12 o trairia. Pedro lhe pede para dizer quem é o traidor. Jesus declara Judas Iscariotes como traidor entregando um pedaço de pão umedecido no molho e lhe diz: “Faze depressa o que estás fazendo”. A explicação não convincente no texto é de que Judas deveria comprar o necessário para a festa ou que deveria oferecer algo aos pobres, já que Judas cuidava da bolsa comum dos apóstolos. A pergunta que fica é: Qual a relação desta informação da comunidade de João, que por sua vez teve influência dos gnósticos, com o Evangelho de Judas que diz que Jesus pede a Judas para traí-lo? Haveria necessidade de Jesus indicar o traidor? Voltando ao Evangelho de Judas, a história de Judas como estrela que mostra o caminho termina dizendo que Judas entra numa nuvem luminosa. O que ocorre depois não sabemos porque o texto original está destruído. Menciona-se uma voz que sai da nuvem e alguns a ouvem, sem na verdade, relatar o seu conteúdo. Judas é exaltado por Deus, em Jesus. Este tipo de cena ocorre com Jesus glorioso. Um tal BarKoba, que siginifica, “Filho da Estrela” foi proclamado em 135 da nossa Era como o Messias do povo judeu, fato que foi desacreditado posteriormente. Uma estrela guiou os reis magos até Belém para adorar Jesus, considerado por eles, como Rei dos Judeus.

5. Conclusão

O Evangelho de Judas termina, após uma lacuna no texto, quando falava que ele entrou numa nuvem luminosa, de forma inesperada. Diz apenas que os escribas e sumo sacerdotes haviam se preparado para prender Jesus durante o momento de sua oração. Eles se encontram com Judas e lhe perguntam o porquê dele estar ali e afirmam que ele, Judas, era discípulo de Jesus. Judas responde a perguntas, recebe dinheiro deles e entrega Jesus.

Judas o papel de libertar Jesus, mas não de traí-lo. Judas não é o traidor. Jesus o pede para realizar tal ato. Como vimos, no Ev. de João a reflexão parece estar na mesma linha. Não estaríamos diante de um fatalismo? Judas não teve a liberdade para decidir. Se aceitamos este tipo de reflexão, teremos que concordar que a morte de Jesus foi também fatalismo. Ele tinha que morrer na cruz e basta. Não. Jesus não teria que morrer na cruz. A sua morte foi conseqüência de sua atitude revolucionária e libertadora.

A descoberta do Evangelho de Judas torna-se importante para o cristianismo na medida em que ela nos permite rediscutir o papel de Judas na história do cristianismo. O documento encontrado pode ser verdadeiro, mas não o seu pensamento. Obras de ficção também eram escritas naquela época. E é dentro de seu contexto que elas precisam ser compreendidas.

No entanto, perguntas permanecem: Por que os evangelhos canônicos apresentam Judas como traidor? Se Jesus era tão conhecido, por que ele precisaria de um delator? Jesus não era uma liderança tão conhecida do Império Romano? Ou todo grande personagem precisa de um grande traidor?

O nome Judas nos remete aos Judeus. Judas teria sido colocado na lista dos apóstolos para dizer que os judeus traíram Jesus. A figura de Judas foi criada para estigmatizá-los como traidores.
Como vimos, fragmentos apócrifos sobre Judas procuram transferir a sua atitude de traidor para a sua mulher. Ademais, Jesus ressuscitado, encontrando-se com Judas após a sua morte, o amaldiçoa pela traição cometida. Baseando apenas em um livro apócrifo não podemos tirar conclusões exacerbadas. O contexto de cada escrito precisa ser analisado. Não resta dúvida que o Evangelho de Judas faz parte de uma corrente de pensamento que cristão que não se sedimentou como a verdadeira. Havia no início do cristianismo várias correntes de pensamento. Uma se torna a vencedora nas disputas teológicas.

O Evangelho de Maria Madalena, também trazido à tona em tempos modernos, deve ser analisado em outra perspectiva. Nele encontramos a mulher que foi destruída na sua liderança pelos homens do poder hegemônico. Ela é a mulher que tanto amou Jesus e que Jesus tanto amou.

Com o Evangelho de Judas somos instigados a repensar o seu papel na história da humanidade cristã. Por que este homem teve que carregar uma culpa tão pesada? Queimar Judas em nossos dias não seria usar de violência com o povo judeu ou até mesmos com os Judas de hoje? Violência gera violência. Um Judas pode gerar outros Judas. Judas somos todos nós, quando traímos o projeto do evangelho, a vida na sua essência.

O Jesus histórico que pregou a libertação do ser humano de toda e qualquer vil opressão não poderia ter pedido para ser traído. O Evangelho de Judas pode nos ajudar a compreender ou trazer mais luzes para o estudo do gnosticismo, mas não mudar o curso da história cristã. Embora, volto a dizer, urge repensar o papel de Judas.

Veja outros artigos do Fr. Jacir no seu site: www.bibliaeapocrifos.com.br

Descobertas estátuas de Afrodite no Golã

Restos de um antigo culto à deusa do amor veio à luz na parte sul das Colinas do Golã, em Susita, no Norte de Israel.

No local, um planaldo de 350 metros que fica na margem oriental do Lago de Genesaré, arqueólogos encontraram um esconderijo de três estátuas de Afrodite (que os romanos chamavam Vênus), de cerca de 1.500 anos atrás. As estatuetas de argila têm cerca de 30 cm de altura.

Em Susita as estatuetas foram encontrados durante as escavações do Instituto Zinman de Arqueologia da Universidade de Haifa, agora em sua décima temporada, conduzidas pelo professor Arthur Segal e o Dr. Michael Eisenberg.

Foram encontradas ao longo dos anos muitas estátuas e representações de Afrodite. Uma delas, de mármore, conhecido como a Vênus de Beit Shean, foi descoberta em 1993, nas casas daquela cidade antiga.

Segal diz que Afrodite era a deusa do amor, mas também da fertilidade e do parto. As mulheres grávidas que queriam um parto seguro ofereciam sacrifícios à deusa, assim como as jovens mulheres pediam a ela uma graça para encontrar o verdadeiro amor. As principais ofertas eram as flores.. As imagens que foram encontradas foram provavelmente produzidas graças a uma forma, da qual teriam saído tantas outras imagens idênticas. Esses imagens eram oferecidas a algum templo ou podiam ser colocadas sob a cama, em casa.

Outra descoberta notável em Susita é um odeon, uma estrutura semelhante a um pequeno teatro coberto, com assentos para 600 espectadores. Tal descoberta é única em Israel. Estas estruturas eram bastante comuns na época romana e foram utilizados para a leitura de poesia e apresentações musicais destinadas a um público selecionado, ao contrário do teatro, onde o público era muito mais numeroso.

Fonte: SBF Taccuino

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Quem é o avô materno de Jesus?

Segundo a tradição, os avôs maternos de Jesus são Ana e Joaquim. Porém deles não encontramos nada na Bíblia. As únicas informações que temos sobre os pais de Maria são contados pelo Proto-Evangelho de Tiago.

Narra-se que Joaquim tinha sido reprimido pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Ana, sua mulher, já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, Joaquim retirou-se ao deserto para orar e meditar. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado para casa, algum tempo depois Ana ficou grávida.

O casal teria morado em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde hoje se ergue a Basílica de Santana; Foi lá que eles teria ganhado uma filha que recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa Senhora da Luz, traduzido para o latim como Maria.
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