quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Marcas ou sinais da verdadeira Igreja.

A verdadeira Igreja é aquela em que se encontram as marcas ou sinais da verdadeira Igreja, principalmente a legítima e sincera pregação da palavra de Deus como nos foi deixada nos escritos dos profetas e apóstolos, que nos conduzem todos nós a Cristo, que no Evangelho disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna... De modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele porque não conhecem a voz dos estranhos” (João 10.5, 27, 28).

E aqueles que são assim na Igreja de Deus têm uma fé e um espírito; e por isso adoram o único Deus e só a ele cultuam em espírito e verdade, só a ele amando de todo o coração e de todas as suas forças, só a ele orando por meio de Jesus Cristo, o único Mediador e Intercessor; e não buscam nenhuma justiça e vida fora de Cristo e da fé nele. Pelo fato de reconhecerem a Cristo como o único chefe e fundamento de sua Igreja, apoiando-se nele, renovam-se diariamente pelo arrependimento e, com paciência, carregam a cruz imposta a eles. Além disso, congregados juntos com todos os membros de Cristo por um amor não fingido, revelam que são discípulos de Cristo perseverando no vínculo da paz e da santa unidade. Ao mesmo tempo participam dos sacramentos instituídos por Cristo e a nós entregues pelos seus apóstolos, não os usando de nenhuma outra maneira a não ser como os receberam do próprio Senhor. Aquela palavra do apóstolo São Paulo é bem conhecida de todos: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei” (I Co 11.23 ss). Por causa disso, condenamos como alienadas da verdadeira Igreja de Cristo todas aquelas igrejas que não são como ouvimos que devem ser, a despeito do muito que se jactam de uma sucessão de bispos, de unidade e de antiguidade. Além do mais, temos a advertência dos apóstolos de Cristo, para que fujamos da idolatria e de Babilônia (I Co 10.14; I João 5.21), e não tenhamos parte com ela se não queremos ser participantes das pragas de Deus (Apoc 18.4; II Co 6.17).


Consideramos a comunhão com a verdadeira Igreja de Cristo coisa tão elevada que negamos que possa viver perante Deus aqueles que não estiverem em comunhão com a verdadeira Igreja de Deus, mas dela se separam. Pois, como não havia salvação fora da arca de Noé, quando o mundo perecia no dilúvio, igualmente cremos que não há salvação certa e segura fora de Cristo, que se oferece para o bem dos eleitos na Igreja; e por isso ensinamos que os que querem viver não podem separar-se da Igreja de Cristo.



Entretanto, pelos sinais acima mencionados, não restringimos a Igreja ao ponto de ensinarmos que estão fora dela todos aqueles que ou não participam dos sacramentos, pelo menos não voluntariamente ou por desprezo, mas antes, forçados pela necessidade, involuntariamente se abstêm deles ou deles são privados, ou em quem a fé algumas vezes falha, embora não seja inteiramente extinta e não cesse de todo; ou em quem se encontram as imperfeições e erros devidos à fraqueza. Sabemos que Deus teve alguns amigos no mundo fora da comunidade de Israel. Sabemos do que aconteceu ao povo de Deus no cativeiro da Babilônia, onde foram privados dos seus sacrifícios por setenta anos. Sabemos o que aconteceu a São Pedro, que negou o Mestre, e o que costuma acontecer diariamente aos eleitos de Deus e às pessoas fiéis que se desviam e são fracas. Sabemos, mais, que tipo de igrejas eram as existentes na Galácia e em Corinto nos dias dos apóstolos, nas quais o apóstolo encontrou muitos e sérios pecados; apesar disso ele as chama santas igrejas de Cristo (I Co 1.2; Gal 1.2).


Sim, muitas vezes acontece que Deus, em seu justo juízo, permite que a verdade da sua Palavra, a fé católica e o culto verdadeiro de Deus sejam de tal forma obscurecidos e deformados, que a Igreja parece quase extinta e não mais existir, como vemos ter acontecido nos dias de Elias (I Reis 19.10, 14), e em outras ocasiões. Não obstante, Deus tem, neste mundo e nestas trevas, os seus verdadeiros adoradores, que não são poucos, chegando mesmo a sete mil e mais (I Reis 19.18, Apoc 7.4, 9). Pois o apóstolo exclama: “O firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo, ‘O Senhor conhece os que lhe pertencem’”, etc. (II Tim 2.19). Vem daí que pode a Igreja de Deus ser designada invisível; não que os homens dos quais ela é formada sejam invisíveis, mas porque, estando oculta de nossos olhos e sendo conhecida só de Deus, ela às vezes secretamente foge ao juízo humano.


Por outro lado, nem todos os que são contados no número da Igreja são santos ou membros vivos e verdadeiros da Igreja. Pois há muitos hipócritas que externamente ouvem a palavra de Deus e publicamente recebem os sacramentos, e parecem invocar a Deus somente por meio de Cristo, confessar que Cristo é a sua única justiça, e adorar a Deus e exercer os deveres de caridade e por algum tempo suportar com paciência as desgraças. E, não obstante, interiormente, estão completamente destituídos da verdadeira iluminação do Espírito, de fé e de sinceridade de coração, e de perseverança até o fim. Mas finalmente o caráter destes homens, em sua maior parte, será manifestado. O apóstolo São João diz: “Eles saíram de nosso meio, mas não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco” (I João 2.19). Todavia, conquanto simulem piedade, não são da Igreja, ainda que sejam considerados estarem na Igreja, exatamente como os traidores numa república estão incluídos no número de seus cidadãos, antes que sejam descobertos; e, como o joio e a palha se encontram no trigo, e como inchaços e tumores se acham no corpo sadio, quando ao contrário são doenças e deformidades e não genuínos membros do corpo. E assim a Igreja de Deus é muito adequadamente comparada a uma rede que retira peixes de todas as espécies, e a um campo no qual se encontram joio e trigo (Mat 13.24 ss, 47 ss).


Conseqüentemente, devemos ser muito cuidadosos, não julgando antes da hora, nem tentando excluir e rejeitar ou separar aqueles aos quais o Senhor não quer excluídos nem rejeitados, e nem aqueles que não podemos eliminar sem prejuízo para a Igreja. Por outro lado, devemos estar vigilantes para que, enquanto os piedosos ressonam, os ímpios não ganhem terreno e causem mal à Igreja.


Além disso, diligentemente ensinamos que se deve tomar grande cuidado naquilo em que consistem de modo especial a verdade e a unidade da Igreja, para não provocarmos nem alimentarmos cismas na Igreja, irrefletidamente. A unidade não consiste em cerimônias e ritos externos, mas antes na verdade e unidade da fé católica. A fé católica não nos é transmitida pelas leis humanas, mas pelas Santas Escrituras, das quais é um resumo o Credo Apostólico. E, assim, lemos nos escritores antigos que havia grande diversidade de cerimônias, mas que eram livres e ninguém jamais pensava que a unidade da Igreja era, desse modo, dissolvida. Assim, ensinamos que a verdadeira harmonia da Igreja consiste em doutrinas e na verdadeira e unânime pregação do Evangelho de Cristo, nos ritos que foram expressamente transmitidos pelo Senhor. E aqui insistimos na palavra do apóstolo: “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se porventura pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos” (Fil 3.11 ss).


Fonte: Segunda Confissão Helvética

sábado, 20 de agosto de 2011

Cristianismo ao Longo dos Séculos

Há tempos atrás postei um esquema sobre a trajetória do cristianismo dando ênfase a linha histórica do protestantismo. Quando falamos em protestantismo, lembramos que os Pais da Reforma eram católicos romanos e que não tinham a pretensão de sair da igreja romana, contudo a separação foi inevitável, pois havia um grande clamor da própria igreja que estava cativa.

No esquema anterior, um leitor do blog fez uma crítica pertinente e construtiva ao alegar que no esquema só havia a Sé Romana como tronco comum do cristianismo em detrimento de outras igrejas autônomas existentes na era pós apostólica ou era dos bispos.

Quando estudamos o cristianismo sob a ênfase do surgimento do protestantismo, teremos como tronco comum a Igreja de Roma, por outro lado, quando estudamos o cristianismo com ênfase global, teremos uma diversidade cristã (p.ex. Igreja Celta, Grã Bretanha, séc. II) e não em uma hierarquia monárquica.

Podemos citar, por exemplo, a título de diversidade cristã, a primeira menção a cristãos na Grã-Bretanha que aparece no Tratado contra os Judeus (202), de Tertuliano, no qual se faz referência a zonas da Bretanha inacessíveis aos Romanos, mas onde já vigoravam os ensinamentos de Cristo.

Insta salientar que somente no ano de 596 d.C., Santo Agostinho (de Cantuária) foi enviado pelo Papa Gregório, o Grande, como missionário para a Grã Bretanha. No livro II do Venerável Beda, "Uma História da Igreja e do Povo Inglês", escrito em torno do ano de 850, é relatado que Gregório, antes de se tornar Papa, viu umas crianças loiras `a venda no mercado de Roma. Quando contaram para ele que eram da Grã Bretanha, de uma raça chamada "anglos", Gregório teria dito: "non angli, sed angeli", que significa, "não anglos, mas anjos".

Desde então, duas correntes – celta e romana –, coexistiram nas Ilhas Britânicas, ora conseguindo posições, ora perdendo-as num "combate" em nome de Deus e com duas diferenças de fundo que iam desde a celebração da data da Páscoa à tonsura, passando pelo próprio ritual ou Liturgia.

Em 603, Agostinho chamou representantes da Igreja Celta numa tentativa de convencê-los a se submeter `as práticas e disciplinas romanas, mas eles recusaram. Santo Agostinho morreu em 605, mas a questão das diferenças entre a Igreja Britânica e a Igreja Romana continuou sendo motivo de controvérsias.

No ano 664, séc. VI, o rei Oswaldo, de Northumbria, decidiu convocar uma reunião em Whitby em 664, com representantes das duas correntes, de modo a tentar chegar a um possível acordo, partindo da questão há muito polêmica da marcação da data da Páscoa. Tal reunião seria de importância capital, uma vez que dela resultou a unificação religiosa da Grã-Bretanha, subordinando-a a Roma, mantendo-se fiel ao cristianismo romano até ao período da Reforma.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O sacrifício de Cristo tiraria os pecados do mundo.

"Portanto Jesus Cristo não quis responder diante de Poncius Pilatos. Por que isso? Porque ele buscava satisfazer a vontade de Deus seu Pai, e o decreto o qual tem concluído: Ele sabia que por seu sacrifício, tiraria os pecados do mundo. E, portanto, Jesus Cristo estando no lugar dos pecadores, não defendeu a si mesmo. Como foi dito pelo Profeta Isaías: “ele é levado para a morte, como um cordeiro que é tosquiado e não abre sua boca'.

sábado, 13 de agosto de 2011

A finalidade das boas obras

As boas obras não devem ser praticadas para, por meio delas, ganharmos a vida eterna pois, como diz o apóstolo, a vida eterna é dom de Deus. Nem devem ser elas praticadas por ostentação, o que o Senhor rejeita em Mat, cap. 6, nem para lucro, o que também ele rejeita em Mat, cap. 23, mas para a glória de Deus, para adornar a nossa vocação, para manifestar gratidão a Deus e para benefício do próximo. É assim que Nosso Senhor diz no Evangelho: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mat S.16). E o apóstolo São Paulo diz: “Que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados” (Ef 4.1). Ainda: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em acção, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Col 3.17); “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fil 2.4); “Que aprendam também a distinguir-se nas boas obras, a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos” (Tit 3.14).


Portanto, embora ensinemos com o apóstolo que o homem é justificado pela graça pela fé em Cristo e não por quaisquer boas obras, contudo não menosprezamos nem condenamos as boas obras. Sabemos que o homem não foi criado ou regenerado pela fé, para viver ocioso, mas antes para fazer sem cessar o que é bom e útil. No Evangelho o Senhor diz que uma árvore boa produz bom fruto (Mat 12.33), e que aquele que nele permanece produz muito fruto (João 15.5). O apóstolo diz: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). E ainda: “O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tit 2.14). Condenamos, portanto, todos os que desprezam as boas obras e vivem a dizer que não precisamos dar atenção a elas e que elas são inúteis.


Fonte: Confissão Helvélica.
Dados: A confissão Helvélica foi elaborada em 1562 por Heinrich Bullinger, publicada em 1566 por Frederico III da Palatina, adotada pelas Igrejas Reformadas da Suíça, França, Escócia, Hungria, Polônia e outras.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cristo expiou os pecados do mundo.

"Até o momento o meu desejo foi o de ensinar que o sacerdote levítico foi ordenado, para ser um tipo do verdadeiro mediador. Agora isso será valioso para nós enquanto brevemente fazemos referência às marcas pelas quais o nosso perpétuo e único sacerdote, o Filho de Deus, deve ser distinguido dos antigos (uma exposição mais completa seguirá adiante em seu devido lugar) ... A última distinção consistia nos próprios sacrifícios, com relação aos quais eu me abstenho de falar no momento de forma mais completa, porque eles terão seu lugar mais adiante. Sobre isso nós só precisamos recordar agora que Cristo expiou os pecados do mundo, não com o sangue dos animais, mas com seu próprio sangue". John Calvin, Exodus 28, Introductory Comments.
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