segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Milagre do Fogo Santo

O milagre do Fogo Sagrado é famoso no mundo da Ortodoxia Oriental, acontecendo da mesma forma, no mesmo lugar, todos os anos ao longo dos séculos. Nenhum outro milagre é tão regular e constante ao longo do tempo. Acontece no Santo Sepulcro na Igreja da Ressurreição, em Jerusalém, um lugar santo na terra, onde Cristo foi crucificado, sepultado, e onde Ele finalmente ressuscitou. Ocorre no dia da Páscoa Ortodoxa, cuja data é determinada a cada novo ano, pois deve ser no primeiro domingo após o equinócio da Primavera e após a Páscoa Judaica. Portanto, na maioria das vezes difere da data da Páscoa Latina, que é determinada através de diferentes critérios.

Cerimônia do Fogo Santo

A fim de permanecer perto do Santo Sepulcro, peregrinos acampam a seu lado. O Sepulcro está localizado na pequena capela chamada “Santo Ciborium”, no interior da Igreja da Ressurreição. Normalmente eles esperam a partir da tarde da Sexta-feira Santa, pois o milagre ocorre no Sábado Santo. A partir das 11:00 da manhã os peregrinos e os cristãos orientais cantam hinos tradicionais em voz alta. Estes cânticos são da época da ocupação otomana de Jerusalém, no século XIII, um período em que os cristãos não eram autorizados a cantá-los em qualquer lugar, apenas nas igrejas. “Nós somos cristãos, temos sido cristãos por séculos, e seremos para todo o sempre. Amém.” Eles cantam ao som de tambores. Os percussionistas ficam sobre os ombros uns dos outros, e dançam em torno do Santo Ciborium. Às 13hs os cânticos silenciam. “Um silêncio tenso, esperando a antecipação da grande demonstração do poder de Deus, para que todos possam ver”.
Pouco depois, uma delegação de autoridades locais abre caminho através da multidão. Na época da ocupação otomana da Palestina eram muçulmanos otomanos, e hoje são israelenses. Sua função é representar os romanos na época de Jesus. Os Evangelhos falam dos romanos que foram para fechar o túmulo de Jesus, para que seus discípulos não fossem roubar seu corpo e afirmassem que ele tinha ressuscitado. Da mesma forma as autoridades israelenses, juntamente com as autoridades das outras Igrejas, se dirigem ao sepulcro na Sexta-Feira Santa, após o Ofício das Exéquias de Cristo, para lacrar o túmulo com cera, colocando cada grupo o seu timbre. Antes disso, porém, apagam todas as lamparinas da igreja, entrando em seguida no local do sepulcro para verificar a existência de qualquer fonte de fogo escondida, o que tornaria o milagre uma fraude.
No dia seguinte (Sábado Santo), antes do início da cerimônia, as autoridades israelenses vão novamente à igreja para romper o lacre e abrir a porta do santo sepulcro, e, antes que o Patriarca ali entre para receber o fogo santo, o revistam, para verificar se ele carrega algo que possa produzir fogo.

Como o Milagre Acontece?

"Eu entro no túmulo e me ajoelho com temor e respeito em frente ao lugar onde os cristãos colocaram o corpo do Senhor depois de sua morte e onde Ele ressurgiu dentre os mortos”, disse o saudoso Patriarca Ortodoxo de Jerusalém Diódoros. “Ali eu digo algumas orações que são proferidas por nós através dos séculos e, tendo-as dito, espero. Às vezes eu espero por alguns minutos, mas normalmente o milagre acontece imediatamente depois de eu ter dito as orações. A partir do centro da grande pedra sobre a qual o corpo de Jesus repousou, é lançada uma luz indefinida. Ela geralmente tem uma tonalidade azul, mas as cores podem variar. Ela não pode ser descrita em termos humanos. A luz nasce da pedra como névoa e aumenta, parecendo um lago - como se a pedra fosse coberta por uma nuvem úmida, mas é luz. A cada ano esta luz se manifesta de forma diferente. Às vezes, abrange apenas a pedra, enquanto outras vezes ilumina todo o sepulcro, de maneira que as pessoas que estão fora do túmulo o vejam cheio de luz. A luz não queima - eu nunca tive a minha barba queimada durante os dezesseis anos que sou Patriarca de Jerusalém e de ter recebido o Fogo Sagrado. A luz é de uma consistência diferente do fogo normal que arde em uma lamparina de azeite. Em um momento, a luz aumenta e forma uma coluna, na qual o fogo é de uma natureza diferente, e posso acender minhas velas nele. Quando recebo a chama nas velas que trago nas mãos, saio e passo o fogo santo primeiro ao Patriarca Armênio, e depois para o Patriarca Copta. Depois passo a sagrada chama a todas as pessoas presentes na Igreja."
O Fogo Santo não é apenas distribuído pelo Arcebispo, mas também opera por si só. É emitido a partir do Santo Sepulcro com uma tonalidade completamente diferente da luz natural. É brilhante, pisca como relâmpago, como uma pomba que voa em torno do tabernáculo do Santo Sepulcro e acende sozinha a lamparina apagada de azeite pendurada em sua frente. O fogo gira de um lado da igreja para o outro. Ele adentra em algumas das capelas no interior da igreja, como, por exemplo, a Capela do Calvário (localizada um nível acima do Santo Sepulcro) e acende as lamparinas. Ele também acende as velas de alguns peregrinos. Na verdade, existem alguns peregrinos piedosos que, cada vez que participaram nesta cerimônia, notaram que suas velas acenderam sozinhas! Essa luz divina também apresenta algumas peculiaridades, pois parece ter uma tonalidade azulada e não queima. Por trinta e três minutos, desde sua manifestação, se o fogo sagrado tocar a face, ou a boca, ou mesmo as mãos dos peregrinos, não queima. Esta é a prova de sua origem divina e sobrenatural. E o fogo sagrado aparece apenas pela invocação de um Arcebispo Ortodoxo, e somente na Páscoa Ortodoxa.

Há Quanto Tempo Ocorre o Milagre?

O primeiro registro conhecido sobre o Fogo Sagrado é datado do século IV, mas autores escreveram que esses acontecimentos se deram já no século I. São João Damasceno e São Gregório de Nissa narram o modo como o Apóstolo Pedro viu o Fogo Sagrado no Santo Sepulcro de Cristo depois da ressurreição. "Podemos traçar o milagre através dos séculos em muitos relatos da Terra Santa." O abade russo Daniel, em seu relato, escrito entre os anos 1.106-1.107, apresenta o "Milagre da Santa Luz", e explica detalhadamente a cerimônia em que o mesmo ocorre. Ele recorda a forma como o Patriarca vai para a capela-Sepulcro (Anastasis –“Ressurreição”), com velas nas mãos. O Patriarca se ajoelha na frente da pedra sobre a qual Cristo foi colocado após a sua morte, e faz algumas orações, ao mesmo tempo o milagre acontece. A luz surge do meio da pedra - uma luz azul, luz indefinível que, após algum tempo, acende as lamparinas de azeite, bem como as duas velas que o Patriarca traz consigo. Esta luz é "o Fogo Sagrado", que é passado a todas as pessoas presentes na Igreja. A cerimônia do "Milagre do Fogo Sagrado" pode ser a mais antiga cerimônia cristã no mundo, uma vez que, como já foi dito, ele é registrado a partir do quarto século d.C., até os nossos dias. A partir destas fontes torna-se evidente que o milagre foi celebrado no mesmo local, na mesma festa, e no mesmo tempo litúrgico em todos estes séculos.

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