No início as palavras do Senhor e o relato de seus feitos eram repetidos e relatados oralmente, mas logo eles começaram a ser redigidos. Em sua obra missionária, os apóstolos tiveram a necessidade de escrever a certas comunidades. Pelo menos alguns desses escritos eram trocados entre as igrejas e logo ganharam a mesma autoridade dos escritos do AT. Contudo é compreensível que tenha decorrido algum tempo antes que a coleção desses escritos do tempo dos apóstolos tivesse tomado o seu lugar, com inquestionável autoridade, ao lado dos livros do AT, especialmente quando se considera que muitos eram escrito às igrejas individuais.
Os Evangelhos, mesmo não sendo os escritos mais antigos do NT, foram os primeiros a serem colocados em pé de igualdade com o AT e reconhecidos como canônicos. Por volta do ano 140, Pápias, bispo de Hierápolis, na Frígia, conhece Marcos e Mateus. Justino (c. de 150) cita os Evangelhos como autoridade. Hegésipo (c. de 180) fala da “Lei e Profetas e do Senhor”. Os mártires de Scilla, na Numídia (180) têm como escritos sagrados, “os livros e as epístolas de Paulo, homem justo”; somente o AT e os Evangelhos eram chamados de “Livros”, isto é, escrituras. Os escritos dos Padres Apostólicos fornecem certa prova de que desde as primeiras décadas do século II, as grandes igrejas possuíam um livro ou grupo de livros que eram comumente conhecidos como “Evangelho” e a que se fazia referência como a um documento que tinha autoridade e era universalmente conhecido.
É provável que já pelo fim do século I ou começo do século II, treze epístolas paulinas (excluindo Hebreus) fossem conhecidas na Grécia, Ásia Menor e Itália. Todos os manuscritos e textos das epístolas paulinas resultaram de uma coleção que se harmoniza com nosso Corpus paulinum. É verdade que as primitivas coleções mostraram variações na ordem das epístolas, mas o número de escritos permanecia o mesmo. Não há citação de Paulo que não seja tirada de uma das epístolas canônicas, embora seja certo que o Apóstolo escreveu outras cartas. Assim por volta do ano 125, havia dois grupos de escritos que possuíam a garantia apostólica e cuja autoridade era reconhecida por todas as comunidades que os possuíam.
Sobre os outros escritos temos poucos relatos na primeira metade do século II. Clemente conhecia Hebreus; Policarpo conhecia 1 Pedro e 1 João; Pápias conhecia 1 Pedro, 1 João e Apocalipse. Na segunda metade do século, Atos, Apocalipse e, pelo menos, 1 João e 1 Pedro eram considerados canônicos; eles tomaram o seu lugar ao lado dos evangelhos e das epístolas paulinas.
Podemos notar quatro fatores que influenciaram a formação do cânon do NT: 1) os muitos apócrifos que a Igreja rejeitou; 2) a heresia de Marcião, que tinha estabelecido o seu próprio cânon, o qual consistia de um Lucas corrigido e das epístolas de Paulo (excluindo as pastorais e Hebreus); 3) os heréticos montanistas, que reivindicavam revelações adicionais do Espírito Santo; 4) a grande abundância de escritos gnósticos;
As dificuldades sobre alguns escritos podem ser justificados por alguns motivos: o fato que alguns escritos do Novo Testamento eram em origem destinados às comunidades locais envolvidas em problemas particulares; as dificuldades de comunicação entre as comunidades; abusos da parte de correntes heterodoxas (o uso do Apocalipse pelos milenaristas); as incertezas sobre a conformidade com o pensamento apostólico de alguns escritos (por exemplo, a carta de Judas que cita o livro apócrifo de Enoch).
Admite-se geralmente que no começo do século III o cânon do NT incluía a maioria, se não todos, dos livros canônicos. A lista mais antiga que possuímos é aquela do fragmento muratoriano, documento descoberto na Biblioteca Ambrosiana, em Milão, em 1740; ela registra os livros que foram aceitos em Roma por volta do ano 200. Não se faz nenhuma menção a Hebreus, 1 e 2 Pedro, 3 João e Tiago. Os papiros de Chestes Beatty, primeira metade do século III, contêm todos os escritos do NT, exceto as Epístolas Católicas. Pode ser notado que Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas não foram aceitos imediatamente no Ocidente, enquanto Hebreus e Apocalipse encontraram a mesma oposição no Oriente.
Na segunda metade do século IV Cirilo de Jerusalém, o Concílio de Laodicéia e Gregório nazianzeno comprovaram a existência de todo o cânon, menos o Apocalipse; enquanto Basílio, Gregório de Nissa e Epifânio incluíam o último também. Atanásio, em 367, enumera todos os 27 livros e pode ser dito que, desde aquele tempo, o cânon estava fixado. . A canonicidade do Apocalipse, embora discutida por alguns teólogos nos séculos V e VI, foi finalmente aceita sem questionamento, em parte sob a influência do Ocidente, onde nunca houve qualquer dúvida com respeito a ela.
A origem apostólica de Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Apostólica foi questionada até Erasmo (1536). Hoje, quase todos os exegetas concordam que Hebreus e 2 Pedro não foram escritas pelos apóstolos e que o autor de Tiago não é o apóstolo do mesmo nome, ao passo que a autenticidade de João, Apocalipse e algumas das epístolas paulinas é amplamente questionada.
O Magistério tomará uma posição sobre o cânon, tanto do NT quanto do AT, no concílio de Florença (1441), fornecendo o elenco dos livros bíblicos segundo o cânon longo; no concílio de Trento (1546) que definirá, depois de qualquer discussão, o cânon de Florença.
Os Critérios de Definição do Cânon
Em que coisa a Igreja se apoia para definir o cânon dos livros sagrados? Uma primeira resposta, que precisa uma reflexão, nos é dada pelo último concílio, segundo o qual é “a mesma tradição que faz a Igreja conhecer o cânon dos livros sagrados” (DV 8). Porém a tradição precisa, por sua vez, de critérios para ter certeza de qual tradição se trate: por exemplo, se esteja em jogo a tradição apostólica, ou simplesmente uma tradição eclesiástica.
Esta é a questão dos critérios de canonicidade que foi objeto de disputas sobretudo a partir do século XVI com Erasmo e com os protestantes. Erasmo espalhou as dúvidas dos primeiros séculos sobre a origem apostólica de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, e de algumas perícopes evangélicas, tais como Mc 16,9-20; Lc 22,43s; Jo 7,57-8,11. Estas seções foram submetidas ao juízo do Concílio de Trento que, depois de ter exibido o elenco definitivo da Bíblia, declarou: “Se alguém não aceitar como livros sagrados e canônicos estes livros, inteiros com todas as suas partes, assim como se é costume lê-los na Igreja católica e se encontrem na edição antiga da Vulgata latina, e desprezará as preditas tradições, seja anátema” (DS, 1501).
Lutero considerava secundários, em relação ao testemunho dado a Cristo, os mesmos escritos rejeitados por Erasmo e os colocava no fim de sua tradução em alemão da Bíblia. Movido por um evangelismo radical, Lutero considerava que o critério determinante para reconhecer um escrito canônico fosse o seu urgere Christum (propor energicamente, fazer valer Cristo), o seu levar e comunicar Cristo (was Christum treibt). Escrevia Lutero: “Isso que não ensina Cristo, não é apostólico, mesmo se o ensinassem Pedro ou Paulo. Vice-versa, isto que anuncia Cristo é apostólico, mesmo se o fazem Judas, Ana, Pilatos ou Herodes”. Em resumo, para Lutero era determinante o critério cristológico que lhe fazia dizer: “Enquanto os adversários fazem valer a Escritura contra Cristo, nós fazemos valer Cristo (urgemus Christum) contra a Escritura”.
Não podemos negar que a fixação do cânon é um ato da Igreja, ou da Tradição, que opera na Igreja. O concílio de Trento acrescenta para a definição do cânon dois argumentos: o uso de ler determinados livros na Igreja e a sua presença na Vulgata latina. Na verdade esses dois argumentos servem para dizer que se reconhecem como canônicos aqueles livros que a tradição da igreja lê.
A tradição dos primeiros séculos deveu articular os próprios critérios de canonicidade. Eles são três: a autoridade apostólica, enquanto livros escritos pelos apóstolos ou por seus colaboradores diretos; A ortodoxia dos escritos, enquanto conformes à regra de fé, ou seja, à fé transmitida pelos apóstolos e professada na Igreja apostólica; a catolicidade dos escritos, enquanto reconhecidos por todas ou maior parte das igrejas.
Repetimos de novo a pergunta: de onde vem a certeza para a Igreja sobre os livros canônicos? É claro que à Igreja não foi dada uma revelação especial sobre isso. Assim a resposta é: a Igreja, querendo exprimir fielmente a mensagem de Cristo, reconheceu sempre mais claramente a insuperável importância daqueles 27 escritos que lhe eram transmitidos desde a idade apostólica.
Os Evangelhos, mesmo não sendo os escritos mais antigos do NT, foram os primeiros a serem colocados em pé de igualdade com o AT e reconhecidos como canônicos. Por volta do ano 140, Pápias, bispo de Hierápolis, na Frígia, conhece Marcos e Mateus. Justino (c. de 150) cita os Evangelhos como autoridade. Hegésipo (c. de 180) fala da “Lei e Profetas e do Senhor”. Os mártires de Scilla, na Numídia (180) têm como escritos sagrados, “os livros e as epístolas de Paulo, homem justo”; somente o AT e os Evangelhos eram chamados de “Livros”, isto é, escrituras. Os escritos dos Padres Apostólicos fornecem certa prova de que desde as primeiras décadas do século II, as grandes igrejas possuíam um livro ou grupo de livros que eram comumente conhecidos como “Evangelho” e a que se fazia referência como a um documento que tinha autoridade e era universalmente conhecido.
É provável que já pelo fim do século I ou começo do século II, treze epístolas paulinas (excluindo Hebreus) fossem conhecidas na Grécia, Ásia Menor e Itália. Todos os manuscritos e textos das epístolas paulinas resultaram de uma coleção que se harmoniza com nosso Corpus paulinum. É verdade que as primitivas coleções mostraram variações na ordem das epístolas, mas o número de escritos permanecia o mesmo. Não há citação de Paulo que não seja tirada de uma das epístolas canônicas, embora seja certo que o Apóstolo escreveu outras cartas. Assim por volta do ano 125, havia dois grupos de escritos que possuíam a garantia apostólica e cuja autoridade era reconhecida por todas as comunidades que os possuíam.
Sobre os outros escritos temos poucos relatos na primeira metade do século II. Clemente conhecia Hebreus; Policarpo conhecia 1 Pedro e 1 João; Pápias conhecia 1 Pedro, 1 João e Apocalipse. Na segunda metade do século, Atos, Apocalipse e, pelo menos, 1 João e 1 Pedro eram considerados canônicos; eles tomaram o seu lugar ao lado dos evangelhos e das epístolas paulinas.
Podemos notar quatro fatores que influenciaram a formação do cânon do NT: 1) os muitos apócrifos que a Igreja rejeitou; 2) a heresia de Marcião, que tinha estabelecido o seu próprio cânon, o qual consistia de um Lucas corrigido e das epístolas de Paulo (excluindo as pastorais e Hebreus); 3) os heréticos montanistas, que reivindicavam revelações adicionais do Espírito Santo; 4) a grande abundância de escritos gnósticos;
As dificuldades sobre alguns escritos podem ser justificados por alguns motivos: o fato que alguns escritos do Novo Testamento eram em origem destinados às comunidades locais envolvidas em problemas particulares; as dificuldades de comunicação entre as comunidades; abusos da parte de correntes heterodoxas (o uso do Apocalipse pelos milenaristas); as incertezas sobre a conformidade com o pensamento apostólico de alguns escritos (por exemplo, a carta de Judas que cita o livro apócrifo de Enoch).
Admite-se geralmente que no começo do século III o cânon do NT incluía a maioria, se não todos, dos livros canônicos. A lista mais antiga que possuímos é aquela do fragmento muratoriano, documento descoberto na Biblioteca Ambrosiana, em Milão, em 1740; ela registra os livros que foram aceitos em Roma por volta do ano 200. Não se faz nenhuma menção a Hebreus, 1 e 2 Pedro, 3 João e Tiago. Os papiros de Chestes Beatty, primeira metade do século III, contêm todos os escritos do NT, exceto as Epístolas Católicas. Pode ser notado que Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas não foram aceitos imediatamente no Ocidente, enquanto Hebreus e Apocalipse encontraram a mesma oposição no Oriente.
Na segunda metade do século IV Cirilo de Jerusalém, o Concílio de Laodicéia e Gregório nazianzeno comprovaram a existência de todo o cânon, menos o Apocalipse; enquanto Basílio, Gregório de Nissa e Epifânio incluíam o último também. Atanásio, em 367, enumera todos os 27 livros e pode ser dito que, desde aquele tempo, o cânon estava fixado. . A canonicidade do Apocalipse, embora discutida por alguns teólogos nos séculos V e VI, foi finalmente aceita sem questionamento, em parte sob a influência do Ocidente, onde nunca houve qualquer dúvida com respeito a ela.
A origem apostólica de Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Apostólica foi questionada até Erasmo (1536). Hoje, quase todos os exegetas concordam que Hebreus e 2 Pedro não foram escritas pelos apóstolos e que o autor de Tiago não é o apóstolo do mesmo nome, ao passo que a autenticidade de João, Apocalipse e algumas das epístolas paulinas é amplamente questionada.
O Magistério tomará uma posição sobre o cânon, tanto do NT quanto do AT, no concílio de Florença (1441), fornecendo o elenco dos livros bíblicos segundo o cânon longo; no concílio de Trento (1546) que definirá, depois de qualquer discussão, o cânon de Florença.
Os Critérios de Definição do Cânon
Em que coisa a Igreja se apoia para definir o cânon dos livros sagrados? Uma primeira resposta, que precisa uma reflexão, nos é dada pelo último concílio, segundo o qual é “a mesma tradição que faz a Igreja conhecer o cânon dos livros sagrados” (DV 8). Porém a tradição precisa, por sua vez, de critérios para ter certeza de qual tradição se trate: por exemplo, se esteja em jogo a tradição apostólica, ou simplesmente uma tradição eclesiástica.
Esta é a questão dos critérios de canonicidade que foi objeto de disputas sobretudo a partir do século XVI com Erasmo e com os protestantes. Erasmo espalhou as dúvidas dos primeiros séculos sobre a origem apostólica de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse, e de algumas perícopes evangélicas, tais como Mc 16,9-20; Lc 22,43s; Jo 7,57-8,11. Estas seções foram submetidas ao juízo do Concílio de Trento que, depois de ter exibido o elenco definitivo da Bíblia, declarou: “Se alguém não aceitar como livros sagrados e canônicos estes livros, inteiros com todas as suas partes, assim como se é costume lê-los na Igreja católica e se encontrem na edição antiga da Vulgata latina, e desprezará as preditas tradições, seja anátema” (DS, 1501).
Lutero considerava secundários, em relação ao testemunho dado a Cristo, os mesmos escritos rejeitados por Erasmo e os colocava no fim de sua tradução em alemão da Bíblia. Movido por um evangelismo radical, Lutero considerava que o critério determinante para reconhecer um escrito canônico fosse o seu urgere Christum (propor energicamente, fazer valer Cristo), o seu levar e comunicar Cristo (was Christum treibt). Escrevia Lutero: “Isso que não ensina Cristo, não é apostólico, mesmo se o ensinassem Pedro ou Paulo. Vice-versa, isto que anuncia Cristo é apostólico, mesmo se o fazem Judas, Ana, Pilatos ou Herodes”. Em resumo, para Lutero era determinante o critério cristológico que lhe fazia dizer: “Enquanto os adversários fazem valer a Escritura contra Cristo, nós fazemos valer Cristo (urgemus Christum) contra a Escritura”.
Não podemos negar que a fixação do cânon é um ato da Igreja, ou da Tradição, que opera na Igreja. O concílio de Trento acrescenta para a definição do cânon dois argumentos: o uso de ler determinados livros na Igreja e a sua presença na Vulgata latina. Na verdade esses dois argumentos servem para dizer que se reconhecem como canônicos aqueles livros que a tradição da igreja lê.
A tradição dos primeiros séculos deveu articular os próprios critérios de canonicidade. Eles são três: a autoridade apostólica, enquanto livros escritos pelos apóstolos ou por seus colaboradores diretos; A ortodoxia dos escritos, enquanto conformes à regra de fé, ou seja, à fé transmitida pelos apóstolos e professada na Igreja apostólica; a catolicidade dos escritos, enquanto reconhecidos por todas ou maior parte das igrejas.
Repetimos de novo a pergunta: de onde vem a certeza para a Igreja sobre os livros canônicos? É claro que à Igreja não foi dada uma revelação especial sobre isso. Assim a resposta é: a Igreja, querendo exprimir fielmente a mensagem de Cristo, reconheceu sempre mais claramente a insuperável importância daqueles 27 escritos que lhe eram transmitidos desde a idade apostólica.
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